15/06/2009

Li, repasso com satisfação!

Li, repasso com satisfação!
Porto perdeu identidade
A história de... António Rebordão Navarro, escritor e poeta
MANUEL VITORINO
O romance inédito "A Cama do Gato" ganhou, por unanimidade do júri, o Prémio Edmundo Bettencourt 2009, um concurso literário promovido pela Câmara Municipal do Funchal.
"Um Infinito Silêncio", título de um dos mais bonitos romances de António Rebordão Navarro, paira, por estes dias, sobre a atribuição do galardão ao livro inédito "A Cama do Gato", vencedor do Prémio Edmundo Bettencourt, poeta da Presença e cujo concurso literário foi atribuído pela Câmara Municipal do Funchal. Agora, na sua bonita casa do Passeio Alegre, à Foz do Douro, forrada de recordações, livros e pinturas, a conversa desagua, naturalmente, na distinção obtida, mas o ficcionista e poeta do Porto, resume em duas frases o que lhe vai na alma: "Surpresa e satisfação". Só isso? A resposta surge tímida e pausada: "Sim, fiquei naturalmente contente, e mais ainda quando soube que o galardão tinha sido atribuído por unanimidade do júri. Um prémio é sempre o reconhecimento do trabalho feito", confessa, não sem antes deixar algumas pistas sobre a obra premiada. "É uma história de amor bruscamente interrompida. É um livro de ficção, com várias leituras", diz o escritor de "Mesopotâmia" (1985, Prémio Miguel Torga); "A Praça de Liège" (1988, Prémio Literário Círculo de Leitores) e "Parábola do Passeio Alegre", entre muitos outros.
Autor de uma escrita singular, o ficcionista e poeta, admirador de Pessoa, Cesário Verde e Camilo Pessanha, continua a surpreender-nos e, em vez das luzes da ribalta, deixa-se extasiar pela luz única do mar da Foz do Douro; a casa fica em frente e é uma das mais bonitas do Porto antigo, situada ao lado do edifício onde viveu e morreu (fez ontem quatro anos) o poeta Eugénio de Andrade.
"Mesmo quando não falo implicitamente do Porto nos meus livros, os lugares, as pessoas e as vivências estão sempre presentes. Por exemplo, no romance "Todos os Tons da Penumbra" (publicado em 2000) não referia a cidade, mas o Porto está presente. Não posso esquecer que o Porto é o lugar onde vivo e amo", responde com emoção e orgulho que só as gentes do burgo portuense são capazes de entender e reconhecer.
Mas será que o seu olhar do Porto não se desvaneceu, isto é, a cidade mantém o seu carácter e identidade? "Nem pensar", diz prontamente. "O Porto de hoje já não é a cidade que conheci. Hoje, o Porto está vazio de cidadãos. Perdeu muito da sua identidade e carácter. Dantes, existiam lugares de encontro. Hoje, há shoppings por todo o lado e mesmo os cafés cederam a outros negócios e interesses", reconheceu.
Na memória da cidade fraternal e solidária o escritor do Porto deriva a conversa para as tertúlias dos cafés, entre os quais, o Rialto, onde em tempo de ditadura diversos intelectuais, gente das letras e das artes, deram à estampa as "Notícias do Bloqueio", famosos cadernos de poemas com assinatura de Egipto Gonçalves, Luís Veiga Leitão, Daniel Filipe, Papiniano Carlos e, obviamente, Rebordão Navarro. Outros tempos. Agora, em tempo de outras peregrinações, o escritor relê a obra de Dirk Bogarde ["As Sombras no Jardim"] e espera, lá para o final do ano, que a Editora Afrontamento publique mais duas obras: "As Ruas Presas às Rodas", o tal romance inédito que narra a história de um motorista de táxi, bem como a reedição de "Mesopotâmia" (1985). O resto do tempo é vivido diante da varanda virada para o mar.

Nenhum comentário:

POESIA NA ESTANTE

  • A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
  • A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
  • A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
  • A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
  • A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
  • A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
  • AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
  • ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
  • ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
  • AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
  • BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
  • BARULHOS - Ferreira Gullar
  • BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
  • BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
  • CADERNO H - Mário Quintana
  • CANTATA - Yeda Prates Bernis
  • CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
  • CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
  • CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
  • CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
  • CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
  • CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
  • DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
  • DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
  • DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
  • ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
  • FINIS TERRA - Lêdo Ivo
  • GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
  • HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
  • INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
  • LAVRÁRIO - Márcio Almeida
  • LÍRIOS POSSÍVEIS - Gabriel Bicalho
  • LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
  • MEL PERVERSO - Márcio Almeida
  • MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
  • O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
  • O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
  • O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
  • O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
  • OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
  • PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
  • PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMA SUJO - Ferreira Gullar
  • POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
  • POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
  • RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
  • VER DE BOI - Pascoal Motta
  • VESÂNIA - Márcio Almeida
  • VIANDANTE - Yeda Prates Bernis