08/02/2011

A TÚNICA: QUASE POEMA DE NATAL


A TÚNICA
(QUASE POEMA DE NATAL)


Geraldo Reis

Branca, a túnica é indivisível.
É multiplicada
e é multiplicadora.

Todos a recebem por inteiro
no dia do próprio nascimento
ao aviso de que devem mantê-la acesa
para que o Menino,
rompendo o ventre das Trevas
reine por inteiro o tempo todo.

Mas um dia...
(Sempre tem “um dia”)
alguém se descuida,

e a Luz
ficando longe

paliúmida
    se apaga

trancando-se depois
como o sol
no enferrujado baú de um dia findo.

Com seus elmos arrefecidos à sombra
de uma oliveira já vencida de cansaço
a milícia romana se refaz em festa
e alguns soldados procuram desmatar o mito:

Há que dividir-se
(por que não?)
a túnica indivisível.

Ao redor do fogo frio
e da geometria de um deus em desatino
a reboque de um menino extenuado
ouve-se próximo
o grito desnatalizado das hienas
que levará dos homens todos
o derradeiro Natal.

A despeito, porém, das hienas
e dos soldados e dos gritos
e dos ásperos caminhos arrepanhados de luz
há de renascer o Menino eficiente
por inteiro
com a sua túnica indivisível
em desfavor da flor enriquecida de urânio
e a favor de uma única pétala de paz.

8 comentários:

VICKYFF disse...

What an incredible marvel you are. You open many windows with your wisdom here.
Scarves Scarves

◄CoNsThAnCiA► disse...

Gostei mto!

Geraldo Reis Poeta disse...

Obrigadom Constância. GR

Geraldo Reis Poeta disse...

Quanto será o último Natal? Para que seja distanciado no tempo esse último Natal, vamos precisar da boa vontade dos homens de boa vongtade.

Geraldo Reis Poeta disse...

Quanto será o último Natal? Para que seja distanciado no tempo esse último Natal, vamos precisar da boa vontade dos homens de boa vongtade.

Martha Tavares Pezzini disse...

Lindo poema! Vou postar no meu blog,

(já postei, "Jogar bridge").

Martha Tavares Pezzini disse...

Geraldo Reis, realmente um ser sensível! Sensível, belo e terno, seu poema de Natal!

Geraldo Reis Poeta disse...

Ainda é Natal. Não duvide, ainda é Natal.
Isso é um acontecimento! É Natal nos grotões e na cidade.
É Natal debaixo das pontes e dos viadutos.
É Natal na falta de pães, no desemprego e no salário curto do trabalhador.
É Natal na cabeça do Cristo indignado que estaciona o pobre na contramão da luz.



POESIA NA ESTANTE

  • A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
  • A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
  • A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
  • A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
  • A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
  • A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
  • AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
  • ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
  • ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
  • AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
  • BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
  • BARULHOS - Ferreira Gullar
  • BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
  • BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
  • CADERNO H - Mário Quintana
  • CANTATA - Yeda Prates Bernis
  • CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
  • CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
  • CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
  • CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
  • CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
  • CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
  • DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
  • DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
  • DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
  • ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
  • FINIS TERRA - Lêdo Ivo
  • GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
  • HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
  • INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
  • LAVRÁRIO - Márcio Almeida
  • LÍRIOS POSSÍVEIS - Gabriel Bicalho
  • LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
  • MEL PERVERSO - Márcio Almeida
  • MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
  • O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
  • O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
  • O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
  • O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
  • OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
  • PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
  • PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMA SUJO - Ferreira Gullar
  • POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
  • POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
  • RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
  • VER DE BOI - Pascoal Motta
  • VESÂNIA - Márcio Almeida
  • VIANDANTE - Yeda Prates Bernis