28/05/2018

POEMA A QUATRO MÃOS E À DISTÂNCIA


(NO CARNAVAL DE 2018)
 
 
Paschoal Motta 
 
 
Geraldo Reis


 
Uma pedra e seu limo
uma sombra e seu cavalo 

um areal e suas águas
e um vento para soprá-lo. 

A lagartixa espreita o calor 
na rachadura do muro

a sombra dói no estertor
de por saber-se um monturo.

E enquanto a tarde entorna
alvissareira cheiro do tempo

bate martelo, a bigorna
faz da morte um monumento.

Assobia amaciante a brisa
e sossega o silêncio

O sono se rebatiza
nas patas de um burro imenso. 

A semente espera a chuva
só, o corpo, pele e arrepios
 
Foi-se a raposa nas uvas 
e o caçador nos seus brios. 

O musgo verde na pedra
a sua carne feito pétala

Não chora quem dele herda 
tão pequenina molécula. 

O lambari no claro corguinho
já reinaugura um caminho 

Nosso barco de papel 
não desce o rio sozinho.

Velejamos
 
juntos: verdejamos.

____________________________________
 

Paschoal Motta me mandou, por e-mail, no Carnaval/2018, um poema que estaria "engavetado há anos" e que, segundo disse, havia concluído.
Não resisti, forcei uma parceria.
Sobre (ou sob) os versos dele, meti alguns (minha colher de pau). 
O atrevimento repetia experiência anterior, no começo dos anos 70, ali por volta de março/abril, quando nos conhecemos em Mariana. Ele, professor, eu, aluno, Curso de Letras.
Espero que os visitantes raros possam degustar esse vinho, ou melhor, essa cachaça ("meu verso é a minha cachaça" - CDA).  
A experiência agora repetida é a marca de uma amizade incomum, prestes a fazer meio século (começo de 1970, início do ano letivo, em fevereiro). É, também, homenagem ao amigo, ao poeta-maior, ao mestre, ao inesquecível professor de Teoria da Literatura e de Latim - Faculdade de Letras - Mariana/MG, 1970. 
Nesse tempo eu trabalhava no IPHAN, em Ouro Preto, com José Alberto Alves de Brito Pinheiro, engenheiro,  o Mestre de Obras, Antônio Acácio, mestre de obras,  Angelino, contramestre.
Andava por lá, muito raramente, Jair Inácio, ali, na Casa da Baronesa, Praça Tiradentes, 33. Dimas Dario Guedes, que seria depois destaque (Diretor estadual do IPHAN), era estudante na UFOP. Muito corado e muito ligado a José Alberto, de quem era aluno e de quem seria assistente. Aparecia lá com vários papéis que seriam talvez de uma pesquisa, mas eu nunca soube, e nunca nos falamos. 
Em fevereiro de 1972, passando por um redemoinho de emoções,  arrisquei Belo Horizonte. 
É, desde então, a cidade em que resido, local de onde registro esses "acontecimentos" e a experiência.  (GR)
________________________________________________________________________________


Nenhum comentário:

POESIA NA ESTANTE

  • A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
  • A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
  • A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
  • A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
  • A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
  • A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
  • AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
  • ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
  • ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
  • AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
  • BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
  • BARULHOS - Ferreira Gullar
  • BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
  • BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
  • CADERNO H - Mário Quintana
  • CANTATA - Yeda Prates Bernis
  • CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
  • CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
  • CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
  • CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
  • CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
  • CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
  • DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
  • DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
  • DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
  • ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
  • FINIS TERRA - Lêdo Ivo
  • GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
  • HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
  • INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
  • LAVRÁRIO - Márcio Almeida
  • LÍRIOS POSSÍVEIS - Gabriel Bicalho
  • LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
  • MEL PERVERSO - Márcio Almeida
  • MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
  • O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
  • O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
  • O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
  • O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
  • OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
  • PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
  • PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMA SUJO - Ferreira Gullar
  • POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
  • POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
  • RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
  • VER DE BOI - Pascoal Motta
  • VESÂNIA - Márcio Almeida
  • VIANDANTE - Yeda Prates Bernis