(NO CARNAVAL DE 2018)
Paschoal Motta
e
Geraldo Reis
Uma pedra e seu limo
uma sombra e seu cavalo
um areal e suas águas
e um vento para soprá-lo.
A lagartixa espreita o calor
na rachadura do muro
a sombra dói no estertor
de por saber-se um monturo.
de por saber-se um monturo.
E enquanto a tarde entorna
alvissareira cheiro do tempo
bate martelo, a bigorna
bate martelo, a bigorna
faz da morte um monumento.
Assobia amaciante a brisa
e sossega o silêncio
O sono se rebatiza
nas patas de um burro imenso.
A semente espera a chuva
nas patas de um burro imenso.
A semente espera a chuva
só, o corpo, pele e arrepios
Foi-se a raposa nas uvas
e o caçador nos seus brios.
O musgo verde na pedra
O musgo verde na pedra
a sua carne feito pétala
Não chora quem dele herda
tão pequenina molécula.
O lambari no claro corguinho
já reinaugura um caminho
Nosso barco de papel
não desce o rio sozinho.
Velejamos
Velejamos
juntos: verdejamos.
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Paschoal Motta me mandou, por e-mail, no Carnaval/2018, um poema que estaria "engavetado há anos" e que, segundo disse, havia concluído.
Não resisti, forcei uma parceria.
Sobre (ou sob) os versos dele, meti alguns (minha colher de pau).
O atrevimento repetia experiência anterior, no começo dos anos 70, ali por volta de março/abril, quando nos conhecemos em Mariana. Ele, professor, eu, aluno, Curso de Letras.
Espero que os visitantes raros possam degustar esse vinho, ou melhor, essa cachaça ("meu verso é a minha cachaça" - CDA).
A experiência agora repetida é a marca de uma amizade incomum, prestes a fazer meio século (começo de 1970, início do ano letivo, em fevereiro). É, também, homenagem ao amigo, ao poeta-maior, ao mestre, ao inesquecível professor de Teoria da Literatura e de Latim - Faculdade de Letras - Mariana/MG, 1970.
Nesse tempo eu trabalhava no IPHAN, em Ouro Preto, com José Alberto Alves de Brito Pinheiro, engenheiro, o Mestre de Obras, Antônio Acácio, mestre de obras, Angelino, contramestre.
Andava por lá, muito raramente, Jair Inácio, ali, na Casa da Baronesa, Praça Tiradentes, 33. Dimas Dario Guedes, que seria depois destaque (Diretor estadual do IPHAN), era estudante na UFOP. Muito corado e muito ligado a José Alberto, de quem era aluno e de quem seria assistente. Aparecia lá com vários papéis que seriam talvez de uma pesquisa, mas eu nunca soube, e nunca nos falamos.
Em fevereiro de 1972, passando por um redemoinho de emoções, arrisquei Belo Horizonte.
É, desde então, a cidade em que resido, local de onde registro esses "acontecimentos" e a experiência. (GR)
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