POESIA:
uma tentativa de preservação das raríssimas áreas verdes da sensibilidade, de preservação dos derradeiros rastros do humanismo.
FUNÇÕES:
Tem funções nitidamente sociais, seja no sentido de reelaboração do Ser, seja no sentido de aprimoramento da sensibilidade. Funciona, ainda, como poderosa arma de contestação, além de ser um instrumento didático, na medida em que instrui, educa e sensibiliza, na medida em que informa, denuncia e faz indagações.
(Em PASTORAL DE MINAS – Prêmio de Literatura Cidade de Belo Horizonte – Poesia - 1981 - Editora Comunicação, 1982).
PALAVRA INICIAL
Como se a sensibilidade fosse um pássaro, cumpre nortear seu vôo, multiplicar seu canto, aprimorar seus instrumentos de luta. Que a poesia, mais do que um exercício de vôo, seja a transformação, pelo canto, a serviço do homem, a serviço das liberdades individuais e coletivas.
Em SOMBRIO CHAPÉU - poesia - livro inédito
Poemas de Geraldo Reis & Convidados (... e eu me sentia, mais por isso, irmão das águas, irmão menor de todos os rios do mundo - in JOGAR BRIGDE)
23/02/2008
17/02/2008
HERANÇA
HERANÇA Geraldo Reis
Geraldo Reis
Depois da noite, do abismo da noite
Ninguém perturbe o silêncio dos óculos
deixados
Como que esquecidos de mim,
Sobre a mesa.
Nunca mais verei com aqueles óculos,
minha dama
De segredo feita e paisagem.
Nenhum calor, nas lentes, que a recorde.
No quarto onde mal dormia
Eu vos deixo de herança
Meus olhos cambaios.
Geraldo Reis
Depois da noite, do abismo da noite
Ninguém perturbe o silêncio dos óculos
deixados
Como que esquecidos de mim,
Sobre a mesa.
Nunca mais verei com aqueles óculos,
minha dama
De segredo feita e paisagem.
Nenhum calor, nas lentes, que a recorde.
No quarto onde mal dormia
Eu vos deixo de herança
Meus olhos cambaios.
TRÊS POEMAS ENLAÇADOS
1 - ENTRE AMAPOLAS
Geraldo Reis
Como o feno preconiza a morte dos cavalos
E a tua crença nos astros
Que entre amapolas tombava
Nunca mais te verei.
(Todo boi guarda no corte
O seu quinhão de visita).
Por inventar a chuva sob os plátanos
De janeiros e becos aterrada
Nunca mais te verei.
Nem que os cavalos ressonem na escuridão
na escuridão do milho
Nem que o feno anuncie a palavra
medo
entre sombras e retalhos
Nem que a tua falta ante assoprando
a semente
Na recomposição de um fogo ainda
agora sitiado
Nunca mais te verei.
Entre reconquistas armadas
que são perdas
Repenso a tua boca
de mim distanciada.
2 - O AMOR E OS VENTOS
Enfim, não te conheço
Não te procuro nem te ressuscito
Espalho aos quatro cantos a notícia
De que não te entendi
porque não
existias.
Meu sonho foi o teu criador.
Nem foi real a minha febre
Quando me acenava com a tua
existência.
E o fato é que não existias
Nem existes
Para o meu completo acabamento.
Ainda agora te reconheço impossível:
Lenda
Sonho
Pesadelo.
Sei que de fato não me tomarás de novo
como o guardião de teus becos
Porque de fato não existes
E eu já não te sonho
Nem te quero.
Não te trago à luz de um pesadelo sequer
porque é bom que não existas
Como os ventos febris que me sopravas
Com a suposta gravidez de tua boca.
3 - SIMPLES GESTO
Com um simples gesto
Recomporei na memória
Os estilhaços de teu nome e tua boca.
Com gesto simples
Estarei colhendo flores
E entoando amavios apressados
Como se isso fosse a certeza de tuas
mãos
de súbito
Ressuscitadas para a gratidão da
oferenda.
Posso também acalmar os gerânios
Arrancar as petúnias
e dar de comer
aos cavalos
Vazar meus próprios olhos
Ou demolir a casa
Ou viajar de mim.
Um dia,
é certo,
Um dia,
Não me encontrarás enfeitado para a
festa
Por promessas de brio e algaravia
Nem que a memória em mim refaça o
canto
De teu retrato falado e redimido.
CANTO LÍQUIDO
CANTO LÍQUIDO
(LEMBRANDO BILAC)
Geraldo Reis
PEDRA LÍQUIDA
COMIGO DESDE A INFÂNCIA.
ÚNICA PEDRA QUE TIVE
E QUE ME LIQUIDA.
PEDRA LÍQUIDA
PEDRA BALA
PEDRA QUE ME LIQUIDANDO
ME EMBALA.
ESSA PEDRA É O MEU CANTO
MEU ACALANTO
MEU ENCANTAMENTO LEMBRANDO BILAC
EU, POETA DE ARAQUE.
COM ELA DIREI “TE AMO”
TANTO QUANTO
OUVINDO ESTRELAS
TRANSFIGURADO
EU, PÁLIDO DE ESPANTO E DE PECADO.
BH 31 05 2008