19/10/2023

NO VÃO DO QUE RESTOU DE TUA BOCA

 

NO VÃO

DO QUE RESTOU 

DE TUA BOCA

 

Geraldo Reis

 

No vão do que restou de tua boca

as montanhas seriam represadas 

              contra o crepúsculo.

 

No estábulo

naquela hora

naquele janeiro,

 

estaríamos orando de mãos 

                            dadas 

para que o amor inútil

                fosse ressuscitado.

 

Orávamos em vão!

 

A ressurreição das coisas de amor 

seria apenas uma ideia

um delírio

um descompasso,

 

a noção, 

distanciada embora,

de um possível naufrágio.

 

Ainda assim, 

ficaríamos ali,

na chuva de um janeiro 

que se prolonga invertebrado.

 

Ficaríamos ali,

espaventando para longe

um círculo de fogo-fátuo,

seus fragmentos,

seus fantasmas, 

 

e o ruído das máquinas ferozes 

            que não fomos,

e o estrídulo das cachoeiras incendiadas 

             que plantamos.

 

A sós

e abraçados

ficaríamos olhando a paisagem

como dois barcos ajoelhados  

que embora cegos

se contemplam extasiados

 

e se agarram      

e se assustam

e se comovem 

 

com os gemidos milimétricos de uma aranha,

ponto minúsculo do amor 

que se contorce

na molécula vermelha da aurora 

posta ao sol

 

espetada

                                         

na madrugada de sangue incerto do crepúsculo.

 

BH.19/outubro/2023.

 



3 comentários:

  1. Boa tarde, Geraldo! Tudo bem? Sou estagiária da Biblioteca Municipal Benjamin Lemos, em Mariana Mg. Gostaria de pedir seu email, pois estamos fazendo uma lista de contato dos escritores da região.

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  2. Claro, favor mandar-me o seu e-mail e farei, diretamente, e farei, com muito prazer e diretamente, o contato. Combinado?

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  3. Bom dia, Mariana!
    Estou aguardando o seu e-mail para fazer contato.
    No mais, muito obrigado.

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