04/07/2008

GERALDO REIS: O SER SENSÍVEL: POEMA COMO CANTO REDIMIDO, PARA FRANCISCO CARVALHO, POETA-MOR

GERALDO REIS: O SER SENSÍVEL: POEMA COMO CANTO REDIMIDO, PARA FRANCISCO CARVALHO, POETA-MOR

Geraldo Reis: VERBETE ENCICLOPÉDIA AFRÂNIO COUTINHO

Nome: Geraldo Magela Reis
Pseudônimo: Geraldo Reis
Ano de Nascimento: 1949
Século de Nascimento: XX
Local de Nascimento: Ouro Preto, MG
Ano da Morte:
Século da Morte:
Local da Morte:
Fonte do autor(a): COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v.
Descrição: Poeta, contista, crítico, diplomado em filosofia, prêmio Cláudio Manuel da Costa (1971), Mário Peixoto (1975), dentre outros
Advogado. Membro da Academia Marianense de Letras (cadeira 27) e do Conselho Editorial da Revista de Direito Minerário.
Fatos Históricos Relacionados

24/06/2008

POEMA COMO CANTO REDIMIDO, PARA FRANCISCO CARVALHO, POETA-MOR



Geraldo Reis

Empresta-me o teu abismo e a tua lua
e serei um demiurgo
e andarei cantando loas
com a boca invisível de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu devaneio e a tua prole
a tua sandália, os teus pés e o teu corpo
andarei entre sarças de fogo, incólume às labaredas
e entrarei no paraíso como no coração de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua ceia e os teus convivas
os grãos de luz de teu celeiro e o teu pasto
empresta-me a tua coleção de antigos versos
e o teu canto de sereia arremessado contra os barcos
e cantarei com a tua voz de pálpebra cerrada
como no paraíso verde de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua janela e o que dela se descortina
cantarei diante do deserto ao vislumbrar as searas apenas inventadas
e verei multiplicarem-se os oásis e as miragens
como na multiplicação dos pães, dos peixes e da chuva
e verei a multiplicação do próprio Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu rio e os teus seixos
a tua areia, os teus peixes cortando a pele clara das águas
e terei uma sede infinita
e uma fome tão ampla como os territórios de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu cardume de sonho e de desejo
o teu livro de rezas e manufaturas
a poção com que se faz um barco, uma espiga
uma estrela, uma bússola, um epitáfio, um pássaro
e possuirei as esquinas de Manhattan, os subúrbios de Paris
as tardes de tua adolescência conspurcada
a tua bandeira de fé projetada no vácuo
donde entrarei cantando na claridade de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua oficina e afinemos os barcos
para que singrem como estilete as águas
empresta-me no espelho a tua face imóvel
repetida no verso como num lago
e entrarei na baía de todos os santos de Deus
como num monastério
e serei salvo.

Empresta-me a tua história, a lenda que habitavas
o teu cajado, a tua figura de pastor e o teu rebanho de cabras.
e serei como a canção de tua boca
e entrarei no ouvido de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu reino e os teus vassalos
o cavalo que um dia sonhaste galopando em alto mar
o salto que ele dava e que anulava a distância
entre o mergulho no abismo e o teu afeto
penetrarei triunfante como um dardo
a escuridão do olhar de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a fração de mar que refletiu teu rosto
onde a primeira ruga era um pombo musicado
a rua clara conduzindo ao impossível terreno de onde se espalha o combate entre o anjo bom que colhe e o verso
e o anjo mau que dissemina o sargaço,
e estarei cantando como urutau que subsiste
às intempéries da atual falta de canto
e entrarei na partitura do próprio canto de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua retina e o que nela se enquadra
e empresta-me a paz de teus lábios cerrados
(não para sempre,
mas enquanto dormes)
e cantarei com a voz da tempestade, como um novo dilúvio
e entrarei no sono de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o que restou de voz ao filho pródigo
o que sobrou do banquete natalino dos mendigos
empresta-me a insônia do que viveu mais pobre
porque tudo o que tinha era nada
e estarei cantando como quem pede
um lugar para sempre na simplicidade de Deus
e serei salvo.

Empresta-me as embarcações mais frágeis
as rotas ignoradas e os versos inacabados
empresta-me o degredo do que não teve pátria nem dinheiro, 
nem endereço, identidade, vida ou morte
e estarei cantando, assim como que passa
a vida inteira diante de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a cerração mais densa e o luar mais baço
empresta-me o teu olho esquerdo
(que o direito pode fazer falta)
e empresta-me a tua história que repete
a pupila do eterno enquanto passo
e estarei cantando como quem abre
o guarda-chuva da proteção que vem de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu catre
e nele o que foi sonho
principalmente empresta-me o teu sinete
as carpideiras que te amaram e que se foram
e as amantes que te consumiram e já nem te comovem
o ar que penetrando os teus pulmões
voltou como verso e como canto redimido
e entrarei nos domínios de Deus com no domingo mais claro
um eterno domingo na madrugada de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua coleção de antúrios e o teu cão de guarda
as canções que tombaram à porta de tua morada
até que chegue o sol e até que chegue a lua
até que chegue a nova eternidade
que existe depois de Deus e do abismo
e serei salvo.

20/06/2008

PARA QUE SERVE A POESIA?

Geraldo Reis

Para tornar o homem mais reflexivo e ciente de sua grandeza enquanto Ser Sensível?
De sua insignificância enquanto ser finito?

Para dar ao homem uma noção mais exata de seu estar-no-mundo enquanto Ser Sensível, incapaz, porém, de transformar seu destino cósmico?

Para fazer o ser humano tão sensível a ponto de descobrir o belo tramado nas coisas mais simples, e o social nas coisas mais complexas como razão de ser-e-estar-no mundo?

Para emocionar o Ser e projetá-lo no mundo da estética, da beleza posta a serviço da transformação do homem enquanto Ser que reúne e equilibra (pelo menos tenta) razão e emoção?

Tudo isso e um pouco mais do que isso, no âmbito da linguagem inaugural, rumo à linguagem inaugural, rumo à descoberta da Palavra, do Homem e do Mundo?

NENHUM NATAL

Geraldo Reis




Nenhum Natal nas roseiras
Só desejos de espinho
Intenções de naufrágio
Pendendo dos galhos.


E as rosas todas, embora
Comidas na antemanhã
da Cobiça e do ouro,
Eis que anoitece, cantamos.


E não tem erva daninha
Estrela, olhos longe, fado
Ama seca, pedra-pomes, ária
Na expressão desse abalo.


Para o menino sonhando caravelas
No mistério de mares embutidos

e apenas
O grito suado dos garis
Brotando da memória dos armários.

vídeo da "maria fumaça"

Uma visita a Ouro Preto e a Mariana será incompleta, se faltar o passeio na Maria Fumaça. A antiga locomotiva, recolocada nos trilhos pela Vale do Rio do Doce, vai de Mariana a Ouro Preto numa viagem que dura cerca de uma hora de muita emoção visual. A locomotiva atravessa montanhas, túneis e dela se descortina uma paisagem exuberante. A mostra é incompleta, seja pela limitação técnica da câmera (celular Sony w300i), seja pela inexperiência deste pseudo-operador.

11/06/2008

Você é Linda - Fonte de mel Nos olhos de gueixa Kabuki, máscara...


Esta canção é sonho e é realidade. Muito especial para mim. Caetano Veloso provou, mais uma vez, que é imbatível! Nas víscera do verso, algo inusitado. Que momento feliz de Caetano! Posso ouvir a música mil vezes, com a sensação de coisa nova, a música não envelhece. Acabei de ouvi-la com a emoção do passado. Caetano, poeta de primeiríssima grandeza é um monumento a parte na Música Popular Brasileira. Caetano é, com força de verbo intransitivo. E sendo, sempre me emociona.

VOCÊ É LINDA

Fonte de mel
Nos olhos de gueixa
Kabuki, máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol
A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás

Linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você é linda
Mais que demais
Vocé é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é forte
Dentes e músculos
Peitos e lábios
Você é forte
Letras e músicas
Todas as músicas
Que ainda hei de ouvir
No Abaeté
Areias e estrelas
Não são mais belas
Do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Gosto de ver
Você no seu ritmo
Dona do carnaval
Gosto de ter
Sentir seu estilo
Ir no seu íntimo
Nunca me faça mal

Linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim
Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

06/06/2008

Pastoral de Minas

PASTORAL DE MINAS

(Poemas)


Prêmio de Literatura Cidade de Belo Horizonte
- 1981 -


Epígrafe:

POESIA
uma Tentativa de preservação das raríssimas
áreas verdes da sensibilidade, de preservação
dos derradeiros rastros do humanismo.

FUNÇÕES
tem funções nitidamente sociais, seja
no sentido de reelaboração do Ser, seja
no sentido de aprimoramento da sensibilidade.
Funciona como poderosa arma de contestação,
além de ser um instrumento didático, na medida
em que instrui, educa e sensibiliza, na medida
em que informa, denuncia e faz indagações.


Epígrafe:

"Escrevi esto libro pra proveito
e especial deleitaçom de dodolos simpleses."
ORTO DO ESPOSO (Anônimo)



Dedicatória

Ao meu Pai.

E à minha Mãe, que descobriu com
entusiasmo o Absoluto
na manhã radiosa dos meus primeiros versos.

A Maria Lúcia, ternura inconfundível, mulher inesgotável
que se multiplica por força das Escrituras e da Poesia.

A Chico Motta que ainda vivo viu nascer este livro
e morreu sonhando um dia premiá-lo.

Aos que foram consumidos no anonimato
pelo fogo ardente da Poesia
e morreram na esperança de um só verso publicado.

A Lêdo Ivo.



PREFÁCIO
Pascoal Motta

Pela consciência crítica na elaboração literária, verificada primcipalmente através da motivação eminentemente mineira que impregna suas páginas, pela linguagem declaradamente criativa, multirradiada, transbordante em universalidade, pelas dissonâncias líricas como marca de modernidade, este PASTORAL DE MINAS é um livro que vem contribuir decisivamente para o nosso enriquecimento cultural e da Literatura Brasileira.

(...)

O surgimento deste livro de canto inusitado, prenhe de surpresas divergentes, mas convergentes, é um alento e uma promessa de melhores dias para a Poesia, num tempo de consumismo diluidor e massacrante.


Editora Comunicação

15/04/2008



PRÍNCIPE E ESPANTALHO



Bom mesmo era morrer em Acapulco

Com a minha vó me embalando

Ao som de oboés pasteurizados.



Bom mesmo era ser príncipe e espantalho

E uma pedra no bolso esquerdo

Pesando como um relógio



(In DURANDO ENTRE VINDIMAS - P. 36)
PRÊMIO CIDADE DE BELO HORIZONTE - poesia - 1988.

09/03/2008

DURANDO ENTRE VINDIMAS

vindimar - v. 1 - Tr. dir. Fazer a vindima de. 2. Intr. Fazer a vindima. 3. Dar cabo de; destruir, dizimar. 4. Tr. dir. Matar, assassinar. (Cf. Dicionário Aurélio).


DURANDO ENTRE VINDIMAS

Pág. 17 - do livro de mesmo título; Prêmio Cidade de Belo Horizonte 1988, para Poesia, Editora UFMG, Belo Horizonte/1990.

Ó meu Padre Cruz
Por que me vens nessa hora
E me acenas com o teu terço de lágrimas
Se há tempos te conduzimos à Escada de Jacó,
De madeira e limo feita embora?

Por que me vens de sobrecenho cerrado
Arrastando chinelos avoengos
com novos rumores que suponho velhas rezas?

Por que me apontas um caminho de luz
que é de repente o vão de um precipício?

Oh, meu velho confessor,
Quero o livro do Deuteronômio e paramentos
Sobrepeliz, estola e capa de asperges
E manhãs de plantio e de colheita
Num tanque de açucenas e regalos.

Retumbam dentro da noite chuvosa e do dia vertical
Meus gritos de ovelha desgarrada diante do pelourinho
Principalmente, os meus silêncios de ovelha,
Durando entre vindimas.

POESIA NA ESTANTE

  • 50 POEMAS (Antologia bilíngue: Português e Alemão) - Anderson Braga Horta / Tradução de Curt Meyr-Clason)
  • A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
  • A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
  • A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
  • A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
  • A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
  • A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
  • AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
  • ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
  • ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
  • AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
  • BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
  • BARULHOS - Ferreira Gullar
  • BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
  • BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
  • CADERNO H - Mário Quintana
  • CANTATA - Yeda Prates Bernis
  • CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
  • CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
  • CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
  • CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
  • CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
  • CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
  • DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
  • DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
  • DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
  • ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
  • ESTESIA (Triolés) - Napoleão Valadares
  • FANTASIA - Napoleão Valadares
  • FINIS TERRA - Lêdo Ivo
  • GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
  • HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
  • HORTA (Versos em Três Tempos) - Anderso de Araújo Horta - Maria Braga Horta e Anderson Braga Horta
  • INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
  • LAVRÁRIO - Márcio Almeida
  • LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
  • MEL PERVERSO - Márcio Almeida
  • MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
  • NARCISO - Marcus Accioly
  • O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
  • O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
  • O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
  • O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
  • OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
  • PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
  • PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMA SUJO - Ferreira Gullar
  • POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
  • POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
  • RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
  • SIGNO (Antologia Metapoética) - Anderson Braga Horta
  • VER DE BOI - Pascoal Motta
  • VESÂNIA - Márcio Almeida
  • VIANDANTE - Yeda Prates Bernis