21/09/2018

NOVO POEMA A QUATRO MÃOS E À DISTÂNCIA: CANTIGUINHA PARA ACALENTAR TATU


Registre-se que o poema foi escrito originalmente por Paschoal Motta, com destaque para a redondilha maior. Em nota o autor informa que escreveu "diante de foto anônima de um tatuzinho sendo ali amamentado."

Fiz uma segunda voz à guisa de acompanhamento, com preferência para decassílabos, à revelia, com total desconhecimento do mestre, até para que lhe fosse, agradável ou não, uma surpresa.

A tarefa implicou inclusive na divisão do poema em blocos.
 
Mais do que atrevimento que possa parecer, a "nova parceria" tem a intenção de justa homenagem.

É assim que esse NOVO POEMA A QUATRO MÃOS foi escrito e vem a público.


CANTIGUINHA DE ACALENTAR TATU
(Seguida de represado canto greis, secundado à distância).


I

Mama, alegre o tatuzinho
sonhando, a mamãe dorme,

Não só de porre vive "esse menino" 
vive também de um pesadelo enorme.

É que o homem, seu vizinho
o quer para ele, de conforme

Quer a carne do pobre após o vinho
deve comê-lo num banquete enorme.


II

O tatu, ah, o tatu, 
nem na boca ele traz dente
numa toca de dureza... 


Há de chorar por ele uma serpente
fria lágrima de vidro, com certeza.


III 

O homem será homem
quando bebe o leite do inocente
para escavar incerteza?

Treinado cão de caça vai à frente
logo haverá de abocanhar a presa.

IV 

Tatuzinho, quem me dera, 
fosse o homem diferente

Deixasse o bicho ver a Primavera
depois, morrer de velho e de contente.

Ele, o homem, a mais fera fera
com frieza inteligente

É cruel para além da estratosfera
Não dá valor ao pobre ser vivente.


Durma seu tempo em sossego
meu tatuzinho e irmão

desfrute enquanto pode seu chamego
e abre um buraco no meu coração.

_______________________________________________________

Paschoal Motta, jornalista, professor, escritor. Publicou os livros de poemas VER DE BOI, Prêmio Cidade de Belo Horizonte - 1973, CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ e ESTAÇÕES DA AUSÊNCIA. Em prosa, EU TIRADENTES, dentre outros. Reside em São Pedro dos Ferros/MG;

Geraldo Reis - Blog O SER SENSÍVEL. Reside em Belo Horizonte/MG.
__________________________________________________________________________________



POESIA NA ESTANTE

  • A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
  • A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
  • A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
  • A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
  • A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
  • A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
  • AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
  • ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
  • ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
  • AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
  • BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
  • BARULHOS - Ferreira Gullar
  • BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
  • BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
  • CADERNO H - Mário Quintana
  • CANTATA - Yeda Prates Bernis
  • CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
  • CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
  • CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
  • CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
  • CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
  • CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
  • DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
  • DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
  • DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
  • ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
  • FINIS TERRA - Lêdo Ivo
  • GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
  • HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
  • INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
  • LAVRÁRIO - Márcio Almeida
  • LÍRIOS POSSÍVEIS - Gabriel Bicalho
  • LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
  • MEL PERVERSO - Márcio Almeida
  • MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
  • O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
  • O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
  • O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
  • O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
  • OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
  • PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
  • PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMA SUJO - Ferreira Gullar
  • POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
  • POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
  • RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
  • VER DE BOI - Pascoal Motta
  • VESÂNIA - Márcio Almeida
  • VIANDANTE - Yeda Prates Bernis