31/08/2008

ESTANTE VIRTUAL

PAI! MÃE! ESTOU NO SEBO! É, PARA MIM, NO MÍNIMO, CURIOSO. Eu, posso dizer, inédito, tenho um encontro marcado comigo no "sebo".


ESTANTE VIRTUAL. Estou lá, Verifique. Vendido? Talvez. De qualquer forma,colocado à mesa, PARA CONSUMO, como se fosse O PÃO MULTIPLICADO.

Título/Autor Ano Estante Vendedor UF Preço + info
Pastoral de Minas
Geraldo Reis 1981 Poesia Livraria e Sebo Paraíba
MG R$ 8,00
Pastoral de Minas
Geraldo Reis 1981 Poesia Acervus Livraria Virtual
MG R$ 13,00
Pastoral de Minas
Geraldo Reis 1981 Poesia Sebo Rumo Novo
MG R$ 5,00

29/07/2008

Geraldo Reis - A Toca da Serpente - A Garganta da Serpente

Geraldo Reis - A Toca da Serpente - A Garganta da Serpente 

O link remete à publicação do poema que agora republico, com alterações apenas quanto à disposição de alguns versos. O poema já está no blog e pode ter alterações, mas a versão abaixo é a primeira. Ele gostava desse poema, e lemos juntos (do jeito que ele gostava) várias vezes em nossos encontros aqui em casa e na casa em que o poeta morou em Belo Horizonte, antes de se mudar para São Pedro dos Ferros. Ele sabia que o poema era uma elegia. Eu também... E rimos muitas vezes porque as metáforas trabalhadas com o verde, as referências bucólicas, a "motivação", toda ela enfim, tem para nós que sabíamos a fonte, um significado muito especial. O fecho então, "teu nome que é fogo / que verde e que atravessa / incólume / a escura montanha do vero esquecimento", veio, segundo me disse como aquela "necessária chave de ouro". 
Republicando, reverencio um de nossos maiores poetas, de cujo passamento tenho notícia, por e-mail, através de nosso amigo comum, Elias Layon.
Em um de nossos últimos contatos, Pascoal me disse que estava trabalhando intensamente,  terminando uma obra que revisava e que teria amais de 400 páginas, dentre outros trabalhos.
Devo dizer que perdi um mestre, um confidente, um amigo, um irmão. Saudade, Mestre! Espere por nós, que estamos a caminho... E descanse em paz. 
 
ACALANTO DE PAPEL, PARA UM AMIGO VERD

 (Para Pascoal Motta, amigo e mestre, autor de VER DE BOI, poemas). 

I

Com as digitais do vento 
gravarei teu nome 
nas asas das aves 

com as digitais do voo 
gravarei teu nome 
nas púrpuras do azul 

com as digitais do gado 
gravarei teu nome 
na amplidão do berro 

com as digitais do futuro 
gravarei teu nome 
no brilho da promessa 

com as digitais da manhã 
gravarei teu nome 
na epiderme do dia 

com as digitais do canto 
gravarei teu nome 
na ossatura da pauta 

com as digitais do encontro 
gravarei teu nome 
na pele da ausência 

com as digitais dos lanhos 
gravarei teu nome 
na permanência do sangue 

com as digitais da escuta 
gravarei teu nome 
no ouvido da noite 

com as digitais de exílio 
gravarei teu nome 
na embarcação dos afogados

com as digitais da idade 
gravarei teu nome 
no coração do tempo 

com as digitais da permanência 
gravarei teu nome 
no aperto de mãos para sempre adiado.

 
II 

onde se acautelam de novas borrascas 
o hálito impuro de Deus e o barro novo ainda imóvel 
escreverei teu nome 

onde a graminácea é como um pôr-de-sol bovino 
na celebração pacífica das heras envolvendo 
 a estrela que há de domar o pântano
mais escreverei teu nome 

onde o décimo algarismo abafará toda metáfora 
e toda viagem e toda efígie e todo verde 
escreverei teu nome 

onde os últimos bardos 
serão precipitados com seus versos 
e com seus barcos 
e com seus remos e salmos como sementes vencidas 
escreverei teu nome 

onde os poemas tão somente imaginados 
estarão dormindo para sempre como no fundo 
de uns olhos verdes já mortiços, 
apagados, talvez, quem sabe, 
mais e mais escreverei teu nome.

III 

teu nome 
que é ouro 
vencendo a indiferença dos búzios 
        e da distância 

teu nome 
que é porto 
domando a ira das águas 
        e dos abismos 

teu nome 
que é susto 
vencendo a indiferença dos galos 
        e dos embrulhos 

teu nome 
que é verde 
dominando toda a extensão 
        dos pântanos e da clorofila 

teu nome 
que é memória 
e que reverdece a metáfora 
na gestação da ausência.

IV 

aqui se acautelam de novas borrascas 
o hálito impuro de deus 
    e o barro novo ainda imóvel 

aqui, o abismo será vero esquecimento 
depois que o teu corpo imolado 
se repetir na pupila dos afagos 

aqui, vencendo a rocha, 
a dura eternidade e as acácias 
escreverei teu nome 

aqui, na esquina dos antigos versos 
    do que foi Minas, 
     e do que foi um dia a tua infância em territórios remotos, 
    barrocos e pastoris 
escreverei teu nome 

aqui, durando como os martelos de teu pai 
    apascentando pesados fardos de sola 
    para sapatos e arreios 
    donde pisar a eternidade e cavalgar o sono 
escreverei teu nome 

aqui, onde o barro novo se debate ao sopro impuro de Deus 
e se contorce de um novo nascimento ao lado 
    de tua mãe soprando o fogo da poesia no cerne da candeia 
escreverei teu nome 

teu nome que é paz
qual bandeira hasteada na memória do vento 
qual memória que é luz afável, permanente 
escreverei  

teu nome que é fogo 
que é verde e que atravessa 
     incólume 
 a escura montanha do vero esquecimento. (Geraldo Reis)

Geraldo Reis - A Toca da Serpente - A Garganta da Serpente

Geraldo Reis - A Toca da Serpente - A Garganta da Serpente

Gosto desse poema. Acreditava tê-lo perdido quando houve uma "pane" mais ou menos recente no meu computador (formatação de HD para instação do windows). Perderam-se os poemas que eu acreditava livres de traça, porque não estavam registrados no papel. A traça viria em forma de simples re-instalação do windows, sem os cuidados necessários. Dos poemas que se foram, ficou a emoção de escrevê-los um dia. Esse "amigo verde", porém, como diz o verso final, por sorte talvez, acabou atravessando, "incólume, a escura montanha do vero esquecimento".
Foi salvo exatamente porque se achava na Toca da Serpente? Ou seria na Garganta da Serpente. Vamos à leitura?

07/07/2008

Concurso de Poesia Álvares de Azevedo

COM RESSALVAS, DIVULGO!!!
Concurso de Poesia Álvares de Azevedo

Louvável a iniciativa, se considerarmos o fato de que a poesia não recebe "incentivos". Para ela, quase sempre, estão fechadas as portas das grandes editoras. Com certa razão, porque o empresário quer lucro, no âmbito do real (com trocadilho e tudo), enquanto o poeta quer a realidade, mas tomada de transfiguração. O que me assusta nessa história toda de concursos que cobram taxas e prommetem "divulgação" é a possibilidade de um engodo. Há sempre um engodo à espreita; e há, também, inúmeros escritores incautos, dispostos a acreditar no milagre da divulgação, essas coisas da mídia, que podem fazer um indivíduo conhecido, mas que não são capazes de fazer melhor a sua poesia.
Desconfio de concursos que cobram taxas de inscrição. Por que não buscaram, antes, patrocínio? Será que o poeta (e poeta geralmente é pobre) é quem deve pagar a conta?
Além disso, no caso específico desse Concusro de Poesia Álvares de Azevedo, a taxa é relativamente alta: R$ 15,00 (QUINZE REAIS).

Outra ressalta é o tema´. Concursos com temática predeterminada? Alto lá. Poesia, como expressão de liberdade interior deve começar livre pelo temaa. O ser humano, visto na sua psiquê, não aceita limites, por isso mesmo a Poesia não deve padecer dessas limitações (peso, forma, cheiro, cor,ou ideologia). Ao diabo toda e qualquer limitação!

Não podemos e não devemos nos esquecer de que Poesia é, com força de verbo ser intransitivo; por isso é que não carece de rótulos; por isso é que abomina todo e qualquer tipo de rótulo. Tomemos como exemplo os estilos de época; a denomimação está correta. Passam épocas e mudam-se os estilos. Quando não se imagina possível a criação de mais um, ainda há quem tente criá-lo, mesmo sabendo (ou não sabendo) que todos os estilos de época passarão, a verdadeira obra de Arte (e me refiro a toda e qualquer expressão artística)sendo Arte, é intemporal; não pertence a uma época; é doável ao Tempo-Sem-Limite. A Poesia pertence tão somente à História da Sensibilidade e da Emoção; e o Homem, enquanto Ser Sensível, pertence à Eternidade.

Nesse modesto espaço, com as ressalvas já apontadas e as reflexões colocadas a título de desabafo, é que divulgo o Regulamento.

É evidente que não participarei dessa "festa pobre" que acho uma ignomínia sem tamanho. Se pelo menos o quantum arrecadado fosse destinado a uma instituição filantrópica (asilo, orfanato, hospital)... Se a taxa depositada diretamente na conta de uma instituição desse tipo... Para prostituir um "fundo" para publicar-se, não. A Poesia é indigna disso. Para divulgar-se não precisa assaltar o bolso pobre dos incautos, que desejam a todo conquistar o seu "lugar ao sol".

Desse viés, o meu alerta: Cuidado, com os vendilhões do templo! Cuidado com aqueles que não puderam entrar Templo da Poesia. Sim, muito cuidado, porque ficarão à porta vendendo, como se fosse promessas de divulgação, como se fosse o milagre dos tempos atuais. O poeta não pode ser vítima de mais essa iniqüidade. Quem se habilitar, desembolsando esse taxa absurda e sem bandeira, bem merece.

Com esse protesto é que divulgo, a seguir, o regulamento do Concurso de Poesia Álvares de Azevedo. Se o poeta estivesse aí, em carne e osso, concordaria com isso? Devemos ressuscitá-lo para que responda.

04/07/2008

GERALDO REIS: O SER SENSÍVEL: POEMA COMO CANTO REDIMIDO, PARA FRANCISCO CARVALHO, POETA-MOR

GERALDO REIS: O SER SENSÍVEL: POEMA COMO CANTO REDIMIDO, PARA FRANCISCO CARVALHO, POETA-MOR

Geraldo Reis: VERBETE ENCICLOPÉDIA AFRÂNIO COUTINHO

Nome: Geraldo Magela Reis
Pseudônimo: Geraldo Reis
Ano de Nascimento: 1949
Século de Nascimento: XX
Local de Nascimento: Ouro Preto, MG
Ano da Morte:
Século da Morte:
Local da Morte:
Fonte do autor(a): COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v.
Descrição: Poeta, contista, crítico, diplomado em filosofia, prêmio Cláudio Manuel da Costa (1971), Mário Peixoto (1975), dentre outros
Advogado. Membro da Academia Marianense de Letras (cadeira 27) e do Conselho Editorial da Revista de Direito Minerário.
Fatos Históricos Relacionados

24/06/2008

POEMA COMO CANTO REDIMIDO, PARA FRANCISCO CARVALHO, POETA-MOR



Geraldo Reis

Empresta-me o teu abismo e a tua lua
e serei um demiurgo
e andarei cantando loas
com a boca invisível de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu devaneio e a tua prole
a tua sandália, os teus pés e o teu corpo
andarei entre sarças de fogo, incólume às labaredas
e entrarei no paraíso como no coração de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua ceia e os teus convivas
os grãos de luz de teu celeiro e o teu pasto
empresta-me a tua coleção de antigos versos
e o teu canto de sereia arremessado contra os barcos
e cantarei com a tua voz de pálpebra cerrada
como no paraíso verde de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua janela e o que dela se descortina
cantarei diante do deserto ao vislumbrar as searas apenas inventadas
e verei multiplicarem-se os oásis e as miragens
como na multiplicação dos pães, dos peixes e da chuva
e verei a multiplicação do próprio Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu rio e os teus seixos
a tua areia, os teus peixes cortando a pele clara das águas
e terei uma sede infinita
e uma fome tão ampla como os territórios de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu cardume de sonho e de desejo
o teu livro de rezas e manufaturas
a poção com que se faz um barco, uma espiga
uma estrela, uma bússola, um epitáfio, um pássaro
e possuirei as esquinas de Manhattan, os subúrbios de Paris
as tardes de tua adolescência conspurcada
a tua bandeira de fé projetada no vácuo
donde entrarei cantando na claridade de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua oficina e afinemos os barcos
para que singrem como estilete as águas
empresta-me no espelho a tua face imóvel
repetida no verso como num lago
e entrarei na baía de todos os santos de Deus
como num monastério
e serei salvo.

Empresta-me a tua história, a lenda que habitavas
o teu cajado, a tua figura de pastor e o teu rebanho de cabras.
e serei como a canção de tua boca
e entrarei no ouvido de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu reino e os teus vassalos
o cavalo que um dia sonhaste galopando em alto mar
o salto que ele dava e que anulava a distância
entre o mergulho no abismo e o teu afeto
penetrarei triunfante como um dardo
a escuridão do olhar de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a fração de mar que refletiu teu rosto
onde a primeira ruga era um pombo musicado
a rua clara conduzindo ao impossível terreno de onde se espalha o combate entre o anjo bom que colhe e o verso
e o anjo mau que dissemina o sargaço,
e estarei cantando como urutau que subsiste
às intempéries da atual falta de canto
e entrarei na partitura do próprio canto de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua retina e o que nela se enquadra
e empresta-me a paz de teus lábios cerrados
(não para sempre,
mas enquanto dormes)
e cantarei com a voz da tempestade, como um novo dilúvio
e entrarei no sono de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o que restou de voz ao filho pródigo
o que sobrou do banquete natalino dos mendigos
empresta-me a insônia do que viveu mais pobre
porque tudo o que tinha era nada
e estarei cantando como quem pede
um lugar para sempre na simplicidade de Deus
e serei salvo.

Empresta-me as embarcações mais frágeis
as rotas ignoradas e os versos inacabados
empresta-me o degredo do que não teve pátria nem dinheiro, 
nem endereço, identidade, vida ou morte
e estarei cantando, assim como que passa
a vida inteira diante de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a cerração mais densa e o luar mais baço
empresta-me o teu olho esquerdo
(que o direito pode fazer falta)
e empresta-me a tua história que repete
a pupila do eterno enquanto passo
e estarei cantando como quem abre
o guarda-chuva da proteção que vem de Deus
e serei salvo.

Empresta-me o teu catre
e nele o que foi sonho
principalmente empresta-me o teu sinete
as carpideiras que te amaram e que se foram
e as amantes que te consumiram e já nem te comovem
o ar que penetrando os teus pulmões
voltou como verso e como canto redimido
e entrarei nos domínios de Deus com no domingo mais claro
um eterno domingo na madrugada de Deus
e serei salvo.

Empresta-me a tua coleção de antúrios e o teu cão de guarda
as canções que tombaram à porta de tua morada
até que chegue o sol e até que chegue a lua
até que chegue a nova eternidade
que existe depois de Deus e do abismo
e serei salvo.

20/06/2008

PARA QUE SERVE A POESIA?

Geraldo Reis

Para tornar o homem mais reflexivo e ciente de sua grandeza enquanto Ser Sensível?
De sua insignificância enquanto ser finito?

Para dar ao homem uma noção mais exata de seu estar-no-mundo enquanto Ser Sensível, incapaz, porém, de transformar seu destino cósmico?

Para fazer o ser humano tão sensível a ponto de descobrir o belo tramado nas coisas mais simples, e o social nas coisas mais complexas como razão de ser-e-estar-no mundo?

Para emocionar o Ser e projetá-lo no mundo da estética, da beleza posta a serviço da transformação do homem enquanto Ser que reúne e equilibra (pelo menos tenta) razão e emoção?

Tudo isso e um pouco mais do que isso, no âmbito da linguagem inaugural, rumo à linguagem inaugural, rumo à descoberta da Palavra, do Homem e do Mundo?

NENHUM NATAL

Geraldo Reis




Nenhum Natal nas roseiras
Só desejos de espinho
Intenções de naufrágio
Pendendo dos galhos.


E as rosas todas, embora
Comidas na antemanhã
da Cobiça e do ouro,
Eis que anoitece, cantamos.


E não tem erva daninha
Estrela, olhos longe, fado
Ama seca, pedra-pomes, ária
Na expressão desse abalo.


Para o menino sonhando caravelas
No mistério de mares embutidos

e apenas
O grito suado dos garis
Brotando da memória dos armários.

vídeo da "maria fumaça"

Uma visita a Ouro Preto e a Mariana será incompleta, se faltar o passeio na Maria Fumaça. A antiga locomotiva, recolocada nos trilhos pela Vale do Rio do Doce, vai de Mariana a Ouro Preto numa viagem que dura cerca de uma hora de muita emoção visual. A locomotiva atravessa montanhas, túneis e dela se descortina uma paisagem exuberante. A mostra é incompleta, seja pela limitação técnica da câmera (celular Sony w300i), seja pela inexperiência deste pseudo-operador.

11/06/2008

Você é Linda - Fonte de mel Nos olhos de gueixa Kabuki, máscara...


Esta canção é sonho e é realidade. Muito especial para mim. Caetano Veloso provou, mais uma vez, que é imbatível! Nas víscera do verso, algo inusitado. Que momento feliz de Caetano! Posso ouvir a música mil vezes, com a sensação de coisa nova, a música não envelhece. Acabei de ouvi-la com a emoção do passado. Caetano, poeta de primeiríssima grandeza é um monumento a parte na Música Popular Brasileira. Caetano é, com força de verbo intransitivo. E sendo, sempre me emociona.

VOCÊ É LINDA

Fonte de mel
Nos olhos de gueixa
Kabuki, máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol
A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás

Linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você é linda
Mais que demais
Vocé é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é forte
Dentes e músculos
Peitos e lábios
Você é forte
Letras e músicas
Todas as músicas
Que ainda hei de ouvir
No Abaeté
Areias e estrelas
Não são mais belas
Do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Gosto de ver
Você no seu ritmo
Dona do carnaval
Gosto de ter
Sentir seu estilo
Ir no seu íntimo
Nunca me faça mal

Linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim
Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

06/06/2008

Pastoral de Minas

PASTORAL DE MINAS

(Poemas)


Prêmio de Literatura Cidade de Belo Horizonte
- 1981 -


Epígrafe:

POESIA
uma Tentativa de preservação das raríssimas
áreas verdes da sensibilidade, de preservação
dos derradeiros rastros do humanismo.

FUNÇÕES
tem funções nitidamente sociais, seja
no sentido de reelaboração do Ser, seja
no sentido de aprimoramento da sensibilidade.
Funciona como poderosa arma de contestação,
além de ser um instrumento didático, na medida
em que instrui, educa e sensibiliza, na medida
em que informa, denuncia e faz indagações.


Epígrafe:

"Escrevi esto libro pra proveito
e especial deleitaçom de dodolos simpleses."
ORTO DO ESPOSO (Anônimo)



Dedicatória

Ao meu Pai.

E à minha Mãe, que descobriu com
entusiasmo o Absoluto
na manhã radiosa dos meus primeiros versos.

A Maria Lúcia, ternura inconfundível, mulher inesgotável
que se multiplica por força das Escrituras e da Poesia.

A Chico Motta que ainda vivo viu nascer este livro
e morreu sonhando um dia premiá-lo.

Aos que foram consumidos no anonimato
pelo fogo ardente da Poesia
e morreram na esperança de um só verso publicado.

A Lêdo Ivo.



PREFÁCIO
Pascoal Motta

Pela consciência crítica na elaboração literária, verificada primcipalmente através da motivação eminentemente mineira que impregna suas páginas, pela linguagem declaradamente criativa, multirradiada, transbordante em universalidade, pelas dissonâncias líricas como marca de modernidade, este PASTORAL DE MINAS é um livro que vem contribuir decisivamente para o nosso enriquecimento cultural e da Literatura Brasileira.

(...)

O surgimento deste livro de canto inusitado, prenhe de surpresas divergentes, mas convergentes, é um alento e uma promessa de melhores dias para a Poesia, num tempo de consumismo diluidor e massacrante.


Editora Comunicação

15/04/2008



PRÍNCIPE E ESPANTALHO



Bom mesmo era morrer em Acapulco

Com a minha vó me embalando

Ao som de oboés pasteurizados.



Bom mesmo era ser príncipe e espantalho

E uma pedra no bolso esquerdo

Pesando como um relógio



(In DURANDO ENTRE VINDIMAS - P. 36)
PRÊMIO CIDADE DE BELO HORIZONTE - poesia - 1988.

09/03/2008

DURANDO ENTRE VINDIMAS

vindimar - v. 1 - Tr. dir. Fazer a vindima de. 2. Intr. Fazer a vindima. 3. Dar cabo de; destruir, dizimar. 4. Tr. dir. Matar, assassinar. (Cf. Dicionário Aurélio).


DURANDO ENTRE VINDIMAS

Pág. 17 - do livro de mesmo título; Prêmio Cidade de Belo Horizonte 1988, para Poesia, Editora UFMG, Belo Horizonte/1990.

Ó meu Padre Cruz
Por que me vens nessa hora
E me acenas com o teu terço de lágrimas
Se há tempos te conduzimos à Escada de Jacó,
De madeira e limo feita embora?

Por que me vens de sobrecenho cerrado
Arrastando chinelos avoengos
com novos rumores que suponho velhas rezas?

Por que me apontas um caminho de luz
que é de repente o vão de um precipício?

Oh, meu velho confessor,
Quero o livro do Deuteronômio e paramentos
Sobrepeliz, estola e capa de asperges
E manhãs de plantio e de colheita
Num tanque de açucenas e regalos.

Retumbam dentro da noite chuvosa e do dia vertical
Meus gritos de ovelha desgarrada diante do pelourinho
Principalmente, os meus silêncios de ovelha,
Durando entre vindimas.

01/03/2008

AINDA, A POESIA

POESIA É O ESQUELETO QUE DESABA / DA NOITE QUANDO A CHUVA / CRIVADA DE FARÓIS.

27/02/2008

GÊNESE DE PABLO

Geraldo Reis

não salsugem o rio
que é dele
o mar que amanhecemos

pois o rio
vai sem bridges

d
e
s
c
e
n
d
e
n
d
o

ou estirando no varal do tempo
nossa carne: roupa-em-retalho

(o homem é o galho
espantalho e tempo)

não solarpem o peixe
que a moenda
é dádiva a contento
acupuntura e frio
que o rio tece

d
e
s
c
e

meu desespero e brio

não sulfurem minhas acnes
não securem minhas veias
que rio sou de humano
no gestar sementes.
-------------------------------------------------------------
Antologia Poética 2
INTERLIVROS - MG / 1977 - pág. 81 e 82

MEU POEMA

Geraldo Reis

Meu poema faço todo com palavras 
Minado eu tenho o peito 
Pise com cuidado. 

Minha poesia 
Cabo novo de enxada 
É o que me agrada 

E meu poema 
Briga de coice no escuro 
Me habita todo e fantasma. 

Só a poesia me sabe os meus melindres. 

Faço uma rodilha e boto na cabeça 
Carrego o feixe de lenha de palavras 
Para o fogão do sobre-humano espanto.

METANÁUTICA

Geraldo Reis  

 

água 

vela 

corpo e destino 

 

rio 

barco 

ela e menino 

 

e duro e dar-te 

e vento e vela 

e corpo e charco 

e eu e ela 

 

triste é o destino das águas

enquanto rio 

e o destino do rio 

enquanto vento 

 

triste o destino do vento 

enquanto barco 

e o destino do barco 

enquanto vela 

 

e eu e ela 

e duro e dar-te 

e cio e cela

 

enquanto barco preciso 

içar as velas de cio 

 

enquanto vela procuro

amar-te em corpo e escuro

 

enquanto corpo

resolvo 

 

andar-te em duro 

e durar-te. 

 

ANTOLOGIA POÉTICA 2 - Pág. 84/85

Editora Interlivros - MG / 1977.

23/02/2008

POESIA

POESIA:

uma tentativa de preservação das raríssimas áreas verdes da sensibilidade, de preservação dos derradeiros rastros do humanismo.

FUNÇÕES:

Tem funções nitidamente sociais, seja no sentido de reelaboração do Ser, seja no sentido de aprimoramento da sensibilidade. Funciona, ainda, como poderosa arma de contestação, além de ser um instrumento didático, na medida em que instrui, educa e sensibiliza, na medida em que informa, denuncia e faz indagações.

(Em PASTORAL DE MINAS – Prêmio de Literatura Cidade de Belo Horizonte – Poesia - 1981 - Editora Comunicação, 1982).

PALAVRA INICIAL

Como se a sensibilidade fosse um pássaro, cumpre nortear seu vôo, multiplicar seu canto, aprimorar seus instrumentos de luta. Que a poesia, mais do que um exercício de vôo, seja a transformação, pelo canto, a serviço do homem, a serviço das liberdades individuais e coletivas.

Em SOMBRIO CHAPÉU - poesia - livro inédito

17/02/2008

HERANÇA

HERANÇA Geraldo Reis

Geraldo Reis

Depois da noite, do abismo da noite
Ninguém perturbe o silêncio dos óculos
deixados

Como que esquecidos de mim,
Sobre a mesa.

Nunca mais verei com aqueles óculos,
minha dama
De segredo feita e paisagem.
Nenhum calor, nas lentes, que a recorde.

No quarto onde mal dormia
Eu vos deixo de herança
Meus olhos cambaios.

TRÊS POEMAS ENLAÇADOS


Geraldo Reis 

1 - ENTRE AMAPOLAS

Como o feno preconiza a morte dos cavalos
E a tua crença nos astros
Que entre amapolas tombava
Nunca mais te verei.

(Todo boi guarda no corte
O seu quinhão de visita).

Por inventar a chuva sob os plátanos
De janeiros e becos aterrada
Nunca mais te verei.

E nem que os cavalos ressonem na escuridão
na escuridão do milho
E nem que o feno anuncie a palavra medo
entre sombras e retalhos
E nem que a tua falta ante assoprando a semente
Na recomposição de um fogo ainda agora sitiado
Nunca mais te verei.

Entre reconquistas armadas
que são perdas

Repenso a tua boa
de mim distanciada.


2 - O AMOR E OS VENTOS

Enfim, não te conheço
Não te procuro nem te ressuscito

Espalho aos quatro cantos a notícia
De que não te entendi porque não existias.

Meu sonho foi o teu criador.

Nem foi real a minha febre
Quando me acenava com a tua existência.

E o fato é que não existias
Nem existes
Para o meu completo acabamento.

Ainda agora te reconheço impossível:
Lenda
Sonho
Pesadelo.

Sei que de fato não me tomarás de novo como o guardião
de teus becos
Porque de fato não existes
E eu já não te sonho
Nem te quero.

Não te trago à luz de um pesadelo sequer
Porque é bom que não existas
Como os ventos febris que me sopravas
Com a suposta gravidez de tua boca.


3 - SIMPLES GESTO

Com um simples gesto
Recomporei na memória
Os estilhaços de teu nome e tua boca.

Com gesto simples
Estarei colhendo flores
E entoando amavios apressados
Como se isso fosse a certeza de tuas mãos
de súbito
Ressuscitadas para a gratidão da oferenda.

Posso também acalmar os gerânios
Arrancar as petúnias e dar de comer aos cavalos
Vazar meus próprios olhos
Ou demolir a casa
Ou viajar de mim.

Um dia, é certo,
Um dia,
Não me encontrarás enfeitado para a festa
Por promessas de brio e algaravia
Nem que a memória em mim refaça o canto
De teu retrato falado e redimido


CANTO LÍQUIDO


CANTO LÍQUIDO
(LEMBRANDO BILAC


                  Geraldo Reis


PEDRA LÍQUIDA
COMIGO DESDE A INFÂNCIA.

ÚNICA PEDRA QUE TIVE
E QUE ME LIQUIDA.


PEDRA LÍQUIDA
PEDRA BALA

PEDRA QUE ME LIQUIDANDO
ME EMBALA.

ESSA PEDRA É O MEU CANTO
MEU ACALANTO
MEU ENCANTAMENTO LEMBRANDO BILAC

EU, POETA DE ARAQUE.

COM ELA DIREI “TE AMO”

TANTO QUANTO
OUVINDO ESTRELAS
TRANSFIGURADO

EU, PÁLIDO DE ESPANTO E DE PECADO.


BH 31 05 2008

POESIA NA ESTANTE

  • A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
  • A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
  • A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
  • A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
  • A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
  • A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
  • AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
  • ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
  • ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
  • AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
  • BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
  • BARULHOS - Ferreira Gullar
  • BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
  • BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
  • CADERNO H - Mário Quintana
  • CANTATA - Yeda Prates Bernis
  • CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
  • CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
  • CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
  • CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
  • CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
  • CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
  • DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
  • DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
  • DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
  • ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
  • FINIS TERRA - Lêdo Ivo
  • GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
  • HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
  • INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
  • LAVRÁRIO - Márcio Almeida
  • LÍRIOS POSSÍVEIS - Gabriel Bicalho
  • LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
  • MEL PERVERSO - Márcio Almeida
  • MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
  • O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
  • O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
  • O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
  • O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
  • OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
  • PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
  • PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMA SUJO - Ferreira Gullar
  • POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
  • POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
  • RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
  • VER DE BOI - Pascoal Motta
  • VESÂNIA - Márcio Almeida
  • VIANDANTE - Yeda Prates Bernis