28/11/2018

Divulgando o lançamento de : ESTADO DE SÍTIO, de Aldísio Filgueiras


Editora Valer





LANÇAMENTO DO LIVRO:
ESTADO DE SÍTIO, DE ALDISIO FILGUEIRAS

Editora Valer lançará no dia 29 de novembro, quinta-feira, às 18h30min, o livro ESTADO DE SÍTIO, do poeta ALDISIO FILGUEIRAS.

O evento será realizado na ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS  ̶   Rua Ramos Ferreira, 1009 - Centro − CEP. 69010-120 − Manaus/AM.


O ano de 1968 foi marcante na vida de Aldísio Filgueiras. Depois de ter sido premiado, no concurso promovido pela União Brasileira de Escritores, seção do Amazonas, o poeta viveu a frustração de ver seu livro de estreia, Estado de Sítio, ser impresso e, ao mesmo tempo, impedido, em função do clima político do país, de ser publicado. Aldísio Filgueiras é um dos fundadores do Teatro Experimental do SESC – Tesc, escreveu em 1973, em parceria com Márcio Souza, a peça Dessana, Dessana.
Atento ao processo histórico e aos desdobramentos políticos que resultaram na redemocratização do país, o autor reuniu um conjunto de poemas, escritos entre os anos de 1978 a 1986, período final do regime militar, que evocam esse contexto, publicado em 1989, o livro foi intitulado A república muda. Pelas suas características formais e conteúdo crítico, a obra é uma continuação de Malária. A publicação, em 1994, de Manaus, as muitas cidades é um marco na trajetória poética de Aldísio Filgueiras: ao mesmo tempo em que atesta sua maturidade como criador, lega à literatura que se produz no Amazonas um dos livros mais expressivos e elucidativos do nosso processo cultural. Nova subúrbios (2004) e Cidades de puro nada (2018) completam essa tapeçaria poética – que também pode ser descrita como um testemunho do sujeito poético sobre o seu tempo e seu espaço vivencial. Seu lugar.

Estado de Sítio é um livro premonitório na trajetória literária de Aldísio Filgueiras: enuncia um posicionamento diante do mundo, marcado por sua condição de gauche, um anjo manco – à margem e desassossegado com os descaminhos do mundo –, ao mesmo tempo em que labora sua lírica e, assim, estabelece os pressupostos de sua estética. O fundamento filosófico e estético da poesia de Aldísio já está prefigurado na encantaria poética que enforma seu livro de estreia.

Esta edição é uma celebração e uma homenagem aos 50 anos de publicação de Estado de Sítio [1968-2018] e é também um reconhecimento pela dedicação de seu autor ao ofício do verso. O renascimento deste livro é uma prova insofismável do poder da palavra e da força e magia da poesia – nenhum poder é capaz de subtrair o canto dos poetas.

Márcio Souza sobre Estado de Sítio

Há dois aspectos de linguagem que sobressaem e caracterizam a poesia de Filgueiras: as palavras já não são mutiladas pelo conhecido onanismo amazonense e aparecem como um jogo sonoro de articulações críticas. Assim, é uma poesia que se abre para fora do confessional, rompendo com a analogia de vitrine e estabelecendo uma subjetividade livre de especulações psicológicas. Não é mais o espírito doente do poeta provinciano que vislumbra na natureza os sinais antropomórficos de sua doença. Filgueiras desaloja esta analogia castradora e enfrenta o significado do mundo amazônico que “risca funda fronteira / e aliena / seu feudo do mundo / em líquido / estado de sítio”.

LANÇAMENTO

Obra: ESTADO DE SÍTIO
Autor: ALDISIO FILGUEIRAS
Edição: Editora Valer
N.º Páginas: 130
Valor: R$ 44,00
Dia: 29 de novembro de 2018 (quinta-feira)
Horário: 18h30
Local: Academia Amazonense de Letras
Rua Ramos Ferreira, 1009 - Centro - CEP. 69010-120  ̶  Manaus/AM 
Contatos: Editora –3184-4568 / Autor (Aldisio): 98113 - 5687   

15/11/2018

POETA VERDE

Geraldo Reis

Para Pascoal Motta,  lembrando  VER DE BOI  - poemas - Prêmio Cidade de Belo Horizonte - Imprensa Oficial - 1973, e em razão da Primavera. 



Ver de boi é ver 

de olhos vermelhos

a Primavera 


lá no longe 

onde o esquecimento não chega

onde a saudade acontece 

 

e tece 

e anuncia 

 

no silêncio e no cio

o amor que se renova. 

 

Ver de boi  é ver o que fica 

do amor

na vida que passa.


É ver    

en-tre-cor-ta-do 


no filme que repete o pasto                                                        

o amor eternizado.


13/10/2018

A TÚNICA


A TÚNICA 
OU
QUASE  POEMA DE NATAL

 
Geraldo Reis


Branca, a túnica é indivisível.

É multiplicada e é multiplicadora.

Todos a recebem por inteiro

no dia do próprio nascimento

ao aviso de que devem mantê-la acesa

para que o Menino,

rompendo o ventre das Trevas

reine por inteiro o tempo todo.


Mas, um dia...

(sempre tem “um dia”)

alguém se descuida,


e a Luz

ficando longe

paliúmida

           se apaga

trancando-se depois

como o sol

no enferrujado baú de um dia findo.


Com seus elmos arrefecidos à sombra

de uma oliveira já vencida de cansaço

a milícia romana se refaz em festa

e alguns soldados procuram desmatar

o mito:


Há que dividir-se

(por que não?)

a túnica indivisível.


Ao redor do fogo frio

e da geometria de um deus em desatino

a reboque de um menino extenuado

ouve-se próximo

o grito desnatalizado das hienas

que levará dos homens todos

o derradeiro Natal.


A despeito, porém, das hienas

e dos soldados e dos gritos

e dos ásperos caminhos arrepanhados de luz

há de renascer o Menino eficiente

por inteiro

com a sua túnica indivisível

em desfavor da flor enriquecida de urânio

e em favor de uma única pétala de paz.

21/09/2018

NOVO POEMA A QUATRO MÃOS E À DISTÂNCIA: CANTIGUINHA PARA ACALENTAR TATU


Registre-se que o poema foi escrito originalmente por Paschoal Motta, com destaque para a redondilha maior. Em nota o autor informa que escreveu "diante de foto anônima de um tatuzinho sendo ali amamentado."

Fiz uma segunda voz à guisa de acompanhamento, com preferência para decassílabos, à revelia, com total desconhecimento do mestre, até para que lhe fosse, agradável ou não, uma surpresa.

A tarefa implicou inclusive na divisão do poema em blocos.
 
Mais do que atrevimento que possa parecer, a "nova parceria" tem a intenção de justa homenagem.

É assim que esse NOVO POEMA A QUATRO MÃOS foi escrito e vem a público.


CANTIGUINHA DE ACALENTAR TATU
(Seguida de represado canto greis, secundado à distância).


I

Mama, alegre o tatuzinho
sonhando, a mamãe dorme,

Não só de porre vive "esse menino" 
vive também de um pesadelo enorme.

É que o homem, seu vizinho
o quer para ele, de conforme

Quer a carne do pobre após o vinho
deve comê-lo num banquete enorme.


II

O tatu, ah, o tatu, 
nem na boca ele traz dente
numa toca de dureza... 


Há de chorar por ele uma serpente
fria lágrima de vidro, com certeza.


III 

O homem será homem
quando bebe o leite do inocente
para escavar incerteza?

Treinado cão de caça vai à frente
logo haverá de abocanhar a presa.

IV 

Tatuzinho, quem me dera, 
fosse o homem diferente

Deixasse o bicho ver a Primavera
depois, morrer de velho e de contente.

Ele, o homem, a mais fera fera
com frieza inteligente

É cruel para além da estratosfera
Não dá valor ao pobre ser vivente.


Durma seu tempo em sossego
meu tatuzinho e irmão

desfrute enquanto pode seu chamego
e abre um buraco no meu coração.

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Paschoal Motta, jornalista, professor, escritor. Publicou os livros de poemas VER DE BOI, Prêmio Cidade de Belo Horizonte - 1973, CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ e ESTAÇÕES DA AUSÊNCIA. Em prosa, EU TIRADENTES, dentre outros. Reside em São Pedro dos Ferros/MG;

Geraldo Reis - Blog O SER SENSÍVEL. Reside em Belo Horizonte/MG.
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28/05/2018

POEMA A QUATRO MÃOS E À DISTÂNCIA


(NO CARNAVAL DE 2018)
 
 
Paschoal Motta 
 
 
Geraldo Reis


 
Uma pedra e seu limo
uma sombra e seu cavalo 

um areal e suas águas
e um vento para soprá-lo. 

A lagartixa espreita o calor 
na rachadura do muro

a sombra dói no estertor
de por saber-se um monturo.

E enquanto a tarde entorna
alvissareira cheiro do tempo

bate martelo, a bigorna
faz da morte um monumento.

Assobia amaciante a brisa
e sossega o silêncio

O sono se rebatiza
nas patas de um burro imenso. 

A semente espera a chuva
só, o corpo, pele e arrepios
 
Foi-se a raposa nas uvas 
e o caçador nos seus brios. 

O musgo verde na pedra
a sua carne feito pétala

Não chora quem dele herda 
tão pequenina molécula. 

O lambari no claro corguinho
já reinaugura um caminho 

Nosso barco de papel 
não desce o rio sozinho.

Velejamos
 
juntos: verdejamos.

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Paschoal Motta me mandou, por e-mail, no Carnaval/2018, um poema que estaria "engavetado há anos" e que, segundo disse, havia concluído.
Não resisti, forcei uma parceria.
Sobre, melhor dizendo sob os versos dele, meti os meus (minha colher de pau). 
O atrevimento repetia experiência anterior, no começo dos anos 70, ali por volta de março/abril, quando nos conhecemos em Mariana. Ele, professor, eu, aluno no Curso de Letras.
Espero que os visitantes raros possam degustar esse vinho, ou melhor, essa cachaça ("meu verso é a minha cachaça" - CDA).  
A experiência agora repetida é a marca de uma amizade incomum, prestes a fazer meio século (começo de 1970, início do ano letivo, em fevereiro). É, também, homenagem ao amigo, ao poeta-maior, ao mestre, ao inesquecível professor de Teoria da Literatura e de Latim - Faculdade de Letras - Mariana/MG, 1970. 
Nesse tempo eu trabalhava no IPHAN, em Ouro Preto, com José Alberto Alves de Brito Pinheiro, engenheiro e professor na UFOP.  o Mestre de Obras era Antônio Acácio. Angelino, o contramestre. Havia um caseiro. Puxo pela memória e o nome me vem: Sr. Rubens. O motorista seria simplesmente João. Alguns já se foram, mas ficaram na lembrança e ficarão também nesse registro.
Andava por lá, muito raramente, Jair Inácio, ali, na Casa da Baronesa, Praça Tiradentes, 33, onde se decidiam os destinos da urbe das casas e dos monumentos que estavam doentes. As casas, como no poema de CDA, estariam morrendo. Tiradentes, o mesmo daquele tempo, permanece na praça. Garantiam que andava inquieto, embora se mostre impassível.
Falta dizer que o jovem estudante de engenharia, Dimas Dario Guedes, que seria depois Diretor Estadual do Patrimônio Histórico em Minas, era muito ligado a José Alberto de Brito Pinheiro  Creio que seria até uma espécie de assistente.  Muito corado, aparecia por lá com vários papéis de uma pesquisa. JA recebia, examinava e colocava na gaveta. Dimas, passava diante do escriturário que eu era, ia direto à mesa do chefe. Nunca nos falamos e isso nunca fez diferença para nenhum dos três. E não era pra fazer...
Em fevereiro de 1972, de repente, passando por um redemoinho de emoções, arrisquei Belo Horizonte. 
É, desde então, minha quase cidade natal, o local em que resido e onde registro esses "acontecimentos" e a experiência.  (GR)
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17/01/2018

Seguidores



Saúdo dois novos seguidores:
Adamor Neves, culto, inteligente - um humanista, enfim, que respeito e admiro desde os tempos em que  frequentávamos o Curso de Letras da FAFIBH,por volta de ali de 73/74.  Com alegria reencontro esse Mestre. Vamos reatar os laços de uma amizade apenas interrompida.
 Dagmar Oliveira, aparece aqui, mas temos um contato antigo, desde que a descobri na internet e acompanho a suas postagens. Combativa, vem demonstrando, sempre, pelas postagens, ser pessoa extremamente ligada ao tempo presente.
Bem vindos, amigos!
Meu blog está merecendo novas publicações.
Prometo cuidar disso.
Muito obrigado aos novos e velhos seguidores.
E...  Viva a Poesia.

26/06/2017

CONFERIR: POESIA QUE VEM DO NORTE

POESIA QUE VEM DO NORTE

Coleção Novos Escritos’, organizada pela Fundação Cultural de João Pessoa

Novos Escritos: Mais duas obras da Coleção Novos Escritos, organizada pela Fundação Cultural de João Pessoa coleção serão o lançadas em João Pessoa - Paraíba. (Li essa notícia e dou minha contribuição no blog. Não conheço os autores e não tenho, por enquanto,uma amostra do trabalho deles. Ei "tiurma". Quem tiver, e puder, pode mandar. Teremos prazer em divulgar.


Os escritores Roberto Menezes, autor do romance ‘Pirilampos Cegos’, o título é intrigante, e Lúcia Wanderley, autora do livro de poemas ‘Mergulho’, farão o lançamento de suas obras nesta quinta-feira (5/jun/2008)), a partir das 18h, no Teatro Ednaldo do Egypto, onde funciona o Centro de Arte e Cultura Municipal (CACUM). O pessoal dos arredores deve prestigiar, do contrário, a literatura, como o circo, acabará morrendo mais um pouco.
As publicações integram a ‘Coleção Novos Escritos’, organizada pela Fundação Cultural de João Pessoa Os interessados podem (e devem) adquirir os livros no local, onde haverá uma sessão de autógrafos e, certamente, um coquetel. O evento tem apoio de divulgação da Funjope - Fundação Cultural de João Pessoa.

Maria Lúcia Wanderley, é paraibana, natural da cidade de Espinharas e mora na Capital desde 1979. Começou a escrever aos 14 anos, tem mostra uma influência da infância vivida no interior (ah Proust!). Da vida no campo trouxe elementos que enriquecem sua poesia. Segundo li, a influência do campo na sua poesia pode ser notada a partir do título de algumas de suas obras como ‘Águas Caladas’, um bom título, ‘Íris no Arco’, e no próprio ‘Mergulho’.

Segundo a notícia, "Na escrita, a poetisa traz influência da literatura de Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Pablo Neruda, Herman Hesse, até a música de Chico Buarque, Raul Seixas e o estilo erudito."

Roberto Menezes da Silva é pernambucano, reside desde a sua infância, em Santa Rita. Escreve desde os 16 anos, vagueando entre a poesia e a prosa, já tendo escrito uma grande quantidade de contos. Menezes possui uma característica que é o uso de elementos de poesia na prosa. Seu romance de estréia, ‘Pirilampos Cegos’, tem personagens fortes e marcantes, e mostra fielmente o estilo do escritor.

O livro é um romance curto sobre dois personagens que se encontram em momentos inusitados de suas vidas. Segundo ele, “Pirilampos é direto, aborda temas perturbadores de maneira original. O encontro entre Laura, moça presa ao ciclo, e Jorge, homem pela metade, faz-nos pensar sobre o que perdemos e o que não conseguimos conquistar”.

06/11/2015

CARTA ABERTA


CARTA ABERTA A ELIAS LAYON


 

(De GERALDO REIS, em Belo Horizonte 


para  ELIAS LAYON, em Mariana)



Layon, quando pintares o Juízo Final,

põe nele o meu rosto, entre as mãos de Deus se comprimindo.


Derrama alguma cor na tela,

exatamente sobre esse meu olho esquerdo assim

desfigurado



(éter?

útero?

eternidade?)


e uma tristeza talvez

de derramado fim de festa.


Põe, com requintes na tela,

mais essa invenção de última hora:

o órgão da Sé tocando um miserere

entre recôncavos e morros

e muito verde, LAYON,

muito verde ao fundo.


Põe depois alguma intimidade

na inconfidência mineira maltratada alhures

exclamação nas emoções cantadas de viés

futuridade na cor que refletir meu gesto

ponto de partida do nada que fui

ao que não foi meu verso e a minha fragilidade.


Nada mais acrescente à receita

que um cheiro úmido de terra,

com meninos cegos ao fundo

atestando o milagre da chuva diante de folhas secas.


Ainda assim, LAYON,

não comprarei esse quadro que não me define,

com motivações de fundo e forma que não me comportam.


(Nem sei se estou respirando na tela!)


A inocência de quem se envolveu na luta com a palavra

(e perdeu sempre) ficou nos becos da infância.


A camisa branca de minha adolescência

ficou nos becos da infância.


A clara dentição dos meus antepassados

ficou nos becos da infância.


A mão do menino que descrevia parábolas

e acenava para a mulher na janela inventada

ficou nos becos da infância.


O coração que imaginei generoso e de olhar impassível

ficou nos becos da infância.


O temor a Deus,

o arremedo de fé,

o remorso,

a sede

o arrepio das palavras tomadas de assalto

nos becos escuros de um verso ainda mal apanhado

a eternidade expulsa do paraíso

como se fora a própria serpente

que não considerava, por sedutora,

a inesperada gravidez da pedra,

as reticências, as meias-palavras,

as dobras ocultas do ocaso

que não pousaram sequer na partitura de um verso,

as velas abandonadas de um navio

padecendo um naufrágio no fundo dos rios,

não há na tela nada disso.


Não há na tela a sensação  talvez de um verso

mínimo que seja, registrando o primeiro beijo

o primeiro pecado

o primeiro remorso.


O gesto eloquente

que eu pensava ter no espelho,

e que ninguém notou

ficou enterrado em Mariana

entre minerais e misereres.


Não há nada de mim na tela,

nada reflete o verso que passou por mim 

e que se  foi sem registro.


Esse verso é que me condena.


Põe na tela a humilhação desse verso:

um traço de viés, em branco, na tela toda branca,

o arremedo de um mugido de gado

pinçado na visão dos cegos.


Põe na tela a memória do galho em que o tempo descansa

naquele  verso que eu deveria ter feito e que não fiz.


E nas mãos condenadoras de Deus,

se comprimindo,

põe a minha cabeça


e a eternidade do trigo

a circunferência do pão

e a quadratura do vinho.


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IDEIA SUBALTERNA "GERALDO REIS - Prêmio LIVRO DO MÊS"- Crítica de EDGARD PEREIRA



COM ALEGRIA,TRANSCREVO
 do blog 
IDEIA SUBALTERNA. Prêmio: LIVRO DO MÊS        ]

 sábado, 4 de julho de 2015
Geraldo Reis
Livro do mês:
       Galardoado com o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, em 1981, o livro de poemas de Geraldo Reis, Pastoral de Minas, mantém-se atual e instigante. Muito mais que uma coletânea de versos, o leitor vê-se diante de uma estrutura verbal orgânica e significativa. O título arrasta consigo uma dupla inscrição, ao indiciar uma fértil ambiguidade: de um lado aponta a vizinhança com os documentos episcopais, de natureza moral, enquanto de outro se mostrar como registro de digressões e notas a respeito de pastores. Enquanto aquela denota o zelo em apregoar a exortação moral, como tratado de condutas e modos de viver, esta alinha-se como rol de sabedoria de conhecimentos empíricos, relacionada a assuntos ligados à vida rústica e pastoril. Em ambas, o que sobeja diz respeito à manutenção de códigos, de intenções e alcance específicos, evidentes em resquícios, vestígios cartoriais e poéticos, com assertivas introdutórias pungentes: “Essa penumbra de proibição, destempero, alumbramento. Esse pelo, esse cavalo a galope tão primeiro, e derradeiro, e decadente, e parvo, o próprio peito. Esse pelo-sinal de pobreza, assessoria de miserê, parceria de ‘prevaricou’, ‘pecou’, ‘levou’.” (Reis, 1981, 23)
Não se nasce impunemente nas montanhas, Minas é muito mais que uma notação geográfica ou histórica – é silício, destino de farsa e desengano - “onde domar a trama / onde bulir o drama / onde cozer a farsa // onde cevar a faina / onde doer a fama / onde puir a praça” (Reis, 1981, 37). A segunda epígrafe, de Cecília Meireles, põe em relevo a crispada onda de sublevação, de fundas e sombrias memórias: “O país da Arcádia / súbito escurece / em nuvens de lágrimas. / Acabou-se a alegre / pastoral dourada: / pelas nuvens baixas, / a tormenta cresce”. A convenção árcade, desde então convocada, faz-se presente ao longo dos poemas, em traços que relevam a delicadeza da écloga, o viver nômade, a exaltação da sabedoria rústica. Tudo isso, sem desdenhar a bruta realidade, em que pontuam “aves de ag’ouro, encomendas / o couro negro das fadas // há penhas como quimeras / quimeras como pedradas” (Reis, 1981, 27). Em notações mais incisivas, pontuais: “caiam bênçãos de Deus / sobre o teu quepe // como uma faca viva / te decepe” (Reis, 1981, 40). A identificação do poeta ao pastor salienta um sentido de sabedoria intuitiva, segundo lição de Chevalier e Gheerbrant: “O pastor simboliza a vigília; sua função é um constante exercício de vigilância: este está desperto e vê. (...) Por causa das diferentes funções que exerce, o pastor aparece como um sábio, cuja ação deriva da contemplação e da visão interior”. (Chevalier; Gheerbrant, 1988, 691-692).

eu sei dos danos das minas
arando o ouro da intriga

também conheço o carinho
de devotadas marílias

se não me aprumo é por logro
das amadas concubinas

dou minhas barras de ouro
pelo coito das meninas
(...)
            (Reis, 1981, 64)

Ainda que voltada para formas populares, a escrita poética desta pastoral não se afasta da consciência da história. Nem dos torneios frasais típicos da fala da província, encaminhando o registro para a esfera da linguagem como legado: “meu coração não emenda coisa com coisa / pensamento ou fala / ou mesmo um fio / de memória amarga” (Reis, 1981, 70). O verso de Geraldo Reis guarda segredos e ecos imprevistos – “e era tudo um mau cheiro de mudo / arengando detrás da vidraça” (Reis, 1981, 33); “antes de tudo / o riacho / compondo rimas no vale// antes de tudo / o capacho / do que me corte ou retalhe” (Reis, 1981, 36). O livro termina cigano como começou, reavivando o nomadismo, no início, a viagem das tropas: “agora o touro / agora o ouro / agora o negro// as mulas de carga rara”; no final, referindo o cavalo “negro, baio e erradio”.  Bela e surpreendente fábula poética, de ressonâncias melódicas inusitadas, alguma incursão barroca, aguda percepção das modulações mínimas, sem medo de transitar pelos atalhos da história e da tradição, municiada das ferramentas da modernidade e da crítica.

CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Trad. Vera da Costa e Silva et al. Rio de Janeiro: José Olympio, 1988.
REIS, Geraldo. Pastoral de Minas. Belo Horizonte: Comunicação, 1981.

Postado por Edgard Pereira Reis às 08:30   

18/10/2015

EXCERTO DE 'ESTAÇÕES DA AUSÊNCIA'



Excerto de 

ESTAÇÕES DA AUSÊNCIA



 PASCHOAL MOTTA
 
Destaque para essa joia. Momento de altíssimo sentir e viver em poesia de permanente amor. O poema nos parece tenro, mas, “é de 1995”, informa o emocionado menestrel. Lá se foram 20 anos! O poema, rejuvenescido, novo em folha, vai atravessando o tempo, como se fosse um fruto saboroso, um perfume, um beijo trazido pela brisa da manhã para a afinar a sensibilidade, emocionar corações apaixonados e encantar o mundo. (Geraldo Reis)

- REGISTRO -
E hoje, 21/10/2023, acrescento: Um ano de seu passamento, Poeta! Continuamos no propósito de defender as bandeiras do verso, do espanto, das palavras perdidas, cordeiros que tentamos apascentar um dia juntos. O cajado em que escoramos a falta de sua presença física, aponta os rumos da caminhada. Esteja em Paz. Aqui, haveremos de esperar a Primavera que virá... e certamente virá. Ainda que não tenhamos seus (do poeta) "olhos físicos" para vê-la, ela permanece, e permanecendo, virá, pois nunca se foi. Está imortalizada nos versos que lhe foram consagrados.  (GR).   
 
 
viajas no pólen do desejo

nas asas de abelhas operosas,

luz inteira, garça em azul;



voltas do sempre, desde o gesto

inicial, desde a pedra e o musgo,

desde a fonte, desde a sede;



e chegas: tuas mãos destas vazias

velejam num remanso de lágrima,



por ausência e apelos repetidos;

luar na tarde, calma na estrada,

sonho de um sabiá protegido

na sombra de verde cantiga;



nem sabia mais o gosto da polpa

da manga de vez das meninices,

cheiro roxo do capim-de-mel;



agora, encanto: a festa nas espigas,

e te reencontro, encantada manhã,


flor de primavera, seiva e raiz.

POESIA NA ESTANTE

  • 50 POEMAS (Antologia bilíngue: Português e Alemão) - Anderson Braga Horta / Tradução de Curt Meyr-Clason)
  • A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
  • A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
  • A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
  • A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
  • A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
  • A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
  • AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
  • ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
  • ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
  • AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
  • BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
  • BARULHOS - Ferreira Gullar
  • BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
  • BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
  • CADERNO H - Mário Quintana
  • CANTATA - Yeda Prates Bernis
  • CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
  • CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
  • CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
  • CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
  • CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
  • CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
  • DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
  • DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
  • DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
  • ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
  • ESTESIA (Triolés) - Napoleão Valadares
  • FANTASIA - Napoleão Valadares
  • FINIS TERRA - Lêdo Ivo
  • GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
  • HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
  • HORTA (Versos em Três Tempos) - Anderso de Araújo Horta - Maria Braga Horta e Anderson Braga Horta
  • INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
  • LAVRÁRIO - Márcio Almeida
  • LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
  • MEL PERVERSO - Márcio Almeida
  • MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
  • NARCISO - Marcus Accioly
  • O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
  • O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
  • O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
  • O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
  • OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
  • PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
  • PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMA SUJO - Ferreira Gullar
  • POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
  • POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
  • RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
  • SIGNO (Antologia Metapoética) - Anderson Braga Horta
  • VER DE BOI - Pascoal Motta
  • VESÂNIA - Márcio Almeida
  • VIANDANTE - Yeda Prates Bernis