Geraldo Reis
07/08/2025
ACALANTO DE PAPEL PARA UM AMIGO VERDE
28/02/2025
REVISTA URUCUIANA DE LETRAS N° 2
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17/09/2024
DURANDO ENTRE VINDIMAS
Vindimar - v. 1 - Tr. dir. Fazer a vindima de. 2. Intr. Fazer a vindima. 3. Dar cabo de; destruir, dizimar. 4. Tr. dir. Matar, assassinar. (Cf. Dicionário Aurélio).
DURANDO
ENTRE
VINDIMAS
Geraldo Reis
Pág. 17 - Do livro de mesmo
título; Prêmio Cidade de Belo Horizonte 1988, para Poesia, Editora UFMG, Belo
Horizonte - Ano de publicação: 1990.
Ó meu Padre Cruz
Por que me vens nessa hora
E me acenas com o teu terço de lágrimas
Se há tempos te conduzimos à Escada de Jacó,
De madeira e limo feita embora?
Por que me vens de sobrecenho cerrado
Arrastando chinelos avoengos
com novos rumores que suponho velhas rezas?
Por que me apontas um caminho de luz
que é de repente o vão de um precipício?
Oh, meu velho confessor,
Quero o livro do Deuteronômio e paramentos
Sobrepeliz, estola e capa de asperges
E manhãs de plantio e de colheita
Num tanque de açucenas e regalos.
Retumbam dentro da noite chuvosa e do dia vertical
Meus gritos de ovelha desgarrada diante do pelourinho,
Principalmente, os meus silêncios de ovelha,
Durando entre vindimas.
13/04/2024
AQUARELA VIÚVA
AQUARELA VIÚVA
Geraldo Reis
A viuvez do
minério
no poema que
é mistério
já se
ressente passado.
O sol que é
sobre a vivenda
na malha
dessa comenda
rumina o
couro do gado.
BH -
04/01/2019 (GR.)
26/02/2024
A PROCISSÃO ACESA EM GUAYAQUIL
A PROCISSÃO ACESA EM GUAYAQUIL
(Por enquanto,
a procissão acesa
apenas
excita a escuridão do barco...
por enquanto.)
Geraldo Reis
A procissão excita
a escuridão do barco encontrado
entre os pertences-de-bolso do afogado.
A procissão acesa pulsa
no interior da praia iluminada quando
um exército de pescadores mortos
se recorta ao longe
e grita a plenos pulmões
o nome do afogado.
A procissão acesa para
de repente quando
um relógio se retrai no temporal cifrado
e recolhe frações desse vitral que franze
um solidéu de areia nos olhos do afogado.
A procissão acesa lavra
um testamento quando
esse resumo de um tempo
interrompido rasga
numa cartilha de sangue
e ferra
a terra prometida no bolso do afogado.
É como se o vento
soprado de outras horas
tocando as velas sazonais
do barco o mastigasse
com os dentes hirtos de areia
no deserto febril de bolso do afogado.
É como se o verbo
soprado de outros ermos
vencendo as iras do barco o engolisse
com a garganta enlouquecida
de uma dama que seria
o menor enigma de bolso do afogado.
A procissão acesa
com intenções de fuga se diverte
e guarda
pernas e braços aquáticos encontrados
entre os pertences-de-bolso do afogado.
E agora que tudo se recolhe,
as aspas arquejando,
um rebanho de luzes empurra para longe
um carrossel incendiado quando
entre preces-de-bolso do afogado.
Já distanciada a procissão gorjeia
um canto em preto-e-branco espaventado
e atravessa o estômago de areia
do relógio de bolso do afogado.
O primeiro sino de luz
na manhã ruborizada
abre repiques de amém
na praia abandonada quando
lacrimejaram Deus no bolso do afogado.
A fímbria em verde-e-branco,
um tanto azul-e-amarela,
do tempo entronizado em cantos mil
acorda em posição de sentinela...
A procissão excita
a escuridão do barco em aquarela
rumo a nova madrugada em Guayaquil
e grita a plenos pulmões
com a garganta de um relógio
enlouquecido,
em chamas
no interior da catedral que chama,
por entre os dentes de Deus,
o nome do afogado.
A procissão excita para sempre
a escuridão do barco
ancorado na cartilha de sangue
entre enigmas e achados
entre achados e perdidos
entre achados incolores
e invisíveis alaridos
sobretudo entre duendes
enlouquecidos
e tudo que talvez não seja
ou nunca tenha sido,
de fato,
um pertence-de-bolso do afogado.
Talvez a mancha de areia
no pulmão do tempo
seja uma fisgada de luz,
terrível como relâmpago,
no coração de areia dos homens
no coração de areia do afogado.
Mas, enfim...
Seja tudo em nome desse canto atravessado
na garganta varonil do tempo entronizado.
Por enquanto
a procissão acesa
apenas
excita a escuridão do barco.
Que do templo encomendado
em cantos mil,
venha a nós o vosso reino,
com removedores
de manchas
que apaguem
abusos ao Arpoador
e que renovem
nossa carne de areia morta em Guayaquil.
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Nota: Guayaquil, oficialmente, Santiago de Guayaquil,
é a maior cidade do Equador.
E é, também, o principal porto do país.
Belo Horizonte/MG - Outubro/2023.
POESIA NA ESTANTE
- 50 POEMAS (Antologia bilíngue: Português e Alemão) - Anderson Braga Horta / Tradução de Curt Meyr-Clason)
- A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
- A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
- A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
- A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
- A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
- A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
- AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
- ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
- ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
- AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
- BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
- BARULHOS - Ferreira Gullar
- BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
- BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
- CADERNO H - Mário Quintana
- CANTATA - Yeda Prates Bernis
- CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
- CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
- CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
- CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
- CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
- CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
- CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
- CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
- DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
- DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
- DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
- ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
- ESTESIA (Triolés) - Napoleão Valadares
- FANTASIA - Napoleão Valadares
- FINIS TERRA - Lêdo Ivo
- GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
- HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
- HORTA (Versos em Três Tempos) - Anderso de Araújo Horta - Maria Braga Horta e Anderson Braga Horta
- INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
- LAVRÁRIO - Márcio Almeida
- LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
- MEL PERVERSO - Márcio Almeida
- MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
- NARCISO - Marcus Accioly
- O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
- O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
- O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
- O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
- OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
- PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
- PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
- POEMA SUJO - Ferreira Gullar
- POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
- POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
- POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
- RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
- SIGNO (Antologia Metapoética) - Anderson Braga Horta
- VER DE BOI - Pascoal Motta
- VESÂNIA - Márcio Almeida
- VIANDANTE - Yeda Prates Bernis