Geraldo Reis
1 - ENTRE AMAPOLAS
Como o feno preconiza a morte dos cavalos
E a tua crença nos astros
Que entre amapolas tombava
Nunca mais te verei.
(Todo boi guarda no corte
O seu quinhão de visita).
Por inventar a chuva sob os plátanos
De janeiros e becos aterrada
Nunca mais te verei.
E nem que os cavalos ressonem na escuridão
na escuridão do milho
E nem que o feno anuncie a palavra
medo
entre sombras e retalhos
E nem que a tua falta ante assoprando
a semente
Na recomposição de um fogo ainda
agora sitiado
Nunca mais te verei.
Entre reconquistas armadas
que são perdas
Repenso a tua boa
de mim distanciada.
2 - O AMOR E OS VENTOS
Enfim, não te conheço
Não te procuro nem te ressuscito
Espalho aos quatro cantos a notícia
De que não te entendi porque não
existias.
Meu sonho foi o teu criador.
Nem foi real a minha febre
Quando me acenava com a tua
existência.
E o fato é que não existias
Nem existes
Para o meu completo acabamento.
Ainda agora te reconheço impossível:
Lenda
Sonho
Pesadelo.
Sei que de fato não me tomarás de novo como o guardião
de teus becos
Porque de fato não existes
E eu já não te sonho
Nem te quero.
Não te trago à luz de um pesadelo sequer
Porque é bom que não existas
Como os ventos febris que me sopravas
Com a suposta gravidez de tua boca.
3 - SIMPLES GESTO
Com um simples gesto
Recomporei na memória
Os estilhaços de teu nome e tua boca.
Com gesto simples
Estarei colhendo flores
E entoando amavios apressados
Como se isso fosse a certeza de tuas
mãos
de súbito
Ressuscitadas para a gratidão da
oferenda.
Posso também acalmar os gerânios
Arrancar as petúnias e dar de comer
aos cavalos
Vazar meus próprios olhos
Ou demolir a casa
Ou viajar de mim.
Um dia, é certo,
Um dia,
Não me encontrarás enfeitado para a
festa
Por promessas de brio e algaravia
Nem que a memória em mim refaça o
canto
De teu retrato falado e redimido
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