01/12/2022

 

NAQUELE JANEIRO

             

                Geraldo Reis

 

Naquele janeiro as centopeias seriam silenciadas pela chuva
E carreadas até o primitivo desenho de teu corpo na pedra.

Naquele janeiro, as águas repetiriam teu nome no tropel dos cavalos

 E o relâmpago recortaria nas grotas o caminho de teu seio.


Naquele janeiro habitarias para sempre o coração das águas

 Entre musgo, lianas, serpentes e beijos.

Naquele janeiro dariam teu corpo como desterrado para sempre

 E o barulho de teu sono anunciaria a instalação do caos na paisagem.


Naquele janeiro as vinhas seriam pisoteadas pelo gado

E as uvas encurtariam a embriaguez antiga

Do vinho derramado pela mão que repetiu teu gesto.

 
Naquele janeiro, deusa, tendo-se por dissipado na bruma o estampido

Seríamos surpreendidos pelo teu nome na velha folha de malva
E boiaríamos para sempre, órfãos de tua boca, de tua face, mãos e atropelos.



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