NAQUELE JANEIRO
Geraldo Reis
Naquele janeiro as centopeias seriam silenciadas pela chuva
E carreadas até o primitivo desenho de teu corpo na pedra.
Naquele janeiro, as águas repetiriam teu nome no tropel dos cavalos
E o relâmpago recortaria nas grotas o caminho de teu seio.
Naquele janeiro habitarias para
sempre o coração das águas
Entre musgo, lianas, serpentes e beijos.
Naquele janeiro dariam teu corpo como desterrado para sempre
E o barulho de teu sono anunciaria a instalação do caos na paisagem.
Naquele janeiro as vinhas seriam
pisoteadas pelo gado
E as uvas encurtariam a embriaguez antiga
Do vinho derramado pela mão que repetiu teu gesto.
Naquele janeiro, deusa, tendo-se por
dissipado na bruma o estampido
Seríamos surpreendidos pelo teu nome na velha folha de malva
E boiaríamos para sempre, órfãos de tua boca, de tua face, mãos e atropelos.
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