31/10/2019

CÂNTICO DE FOGO


CÂNTICO DE FOGO
 
 Geraldo Reis

O Juízo Final é um pássaro cego
cravando seu canto de fogo na pupila branca de Deus
que em vão se esquiva
e no corpo do homem 
que inerte 
não se abala.

O Juízo Final teme que os peixes e as plantas
não boiem depois de mortos
por força de alguma desconhecida serpente
ou de algum demiurgo
criado a partir do pensamento da hidra.

O Juízo Final semeia a ferida
que há de preencher os espaços da vinha
           e de envolver os cântaros
a ferida que há de dissipar a memória 
da água e da sede
e da febre, que era alumbramento.

O Juízo Final conduz pelas mãos
um crepúsculo saído do ventre fundo de Deus
e abre um caminho novo em direção à aurora
que se fez carne a partir de um bocejo.

O Juízo Final comparece em pessoa ao julgamento de Deus
diante do pântano, das trevas e do abismo
que foram a matéria-prima de que ele fez o homem.

O Juízo Final espreme o olho de Deus
que expele inéditos pombos da morte
fatais e devoradores
e frios como cubos de gelo.

O Juízo Final pedala
embora rupestre
uma roca
e tece o destino dos justos
diante de um Deus que pede um copo d’água
vendo que toda  sua obra resultou num deserto.

O Juízo Final, de corpo e alma,
celebra a irreverência dos vermes,
que não se deixam abater,
ao contrário, 
se reproduzem com apetite voraz,
vendo a morte definitiva de Deus e do homem.

O Juízo Final põe fim à obra prematura de Deus
e lava as mãos na fonte luminosa
que brotou da maçã triangular de seu olho.


29/08/2019

COM NOVO DESENHO, A POESIA PEDE PASSAGEM



        LÍGIA PORTO: COM NOVO DESENHO
A POESIA PEDE PASSAGEM

        Na importância da cor, do traço, do perfil de pessoas e coisas que traz da infância privilegiada vivida em Barbacena/MG, nos contornos de um novo desenho que deixa ver sua experiência com o pincel, a cor e o traço personalíssimo na tela em branco, LÍGIA PORTO deixa em evidência para o intérprete, as origens de seu livro de estreia: DE LAÇOS E CANTOS... AS CORES DO PERGAMINHO (Poesia - 2019 - Editora O LUTADOR, de Belo Horizonte. (O livro tem prefácio de GR, que faz esse registro). A partir desse conjunto de instrumentos usados como referência para criação de seus mitos, LG, que tem, de fato, larga experiência como pintora, abre caminho para a criação de seu mundo poético, pincelando agora com palavras. Assim é que vai colorindo, aqui e ali, a página em branco.
De fato, para inaugurar esse universo ou paraíso particular, LÍGIA PORTO utiliza-se  de LAÇOS E CANTOS, e vem, imediatamente, com o PERGAMINHO  em branco, onde lança o seu manifesto. Nesse pergaminho imaginário registra em perfumes e cores suas emoções e seus estremecimentos. Nessa caminhada redescobre seu “berço natal”, como se o trouxesse no bolso.  Segundo diz:  
          “floresce logo ali:
                        uma cidade em flor,
            seguindo sob a luz do sol,  
            em direção ao sul”.
Temos, imediatamente, o tom de uma expressão poética tomada de cores, traços, sons e segredos e perfumes, sensações que serão usados para criar, mais adiante, um momento especial pela metáfora, quando pergunta:
        “que perfume é este
          engravidado de lua,  
          garimpando o segredo das montanhas?”
Com esse espírito de cores, de sons, de laços, de descoberta e de um mundo poético onde habitam sombras e aromas, brilhos e acordes que chegam de uma infância privilegiada vivida em Barbacena, emblemática  “cidade de rosas e de luzes”, é que tenho a honra, a alegria e a satisfação de apresentar LÍGIA PORTO e a sua coleção de poemas intitulada DE LAÇOS E CANTOS... AS CORES PERGAMINHO.
Para esse primeiro passo, que é firme, seguro e promissor, é que em nome da poesia venho batizá-la:
Lígia Porto, ao recebê-la, a poesia pede passagem.
       
Geraldo Reis – Belo Horizonte/MG  04/abril/2019
(Recepcionando a escritora no Clube dos Oficiais da Polícia Militar de MG, em concorrido lançamento da obra, em Belo Horizonte/MG)        

28/08/2019

DIVULGANDO: Série ENCONTRO MARCADO




Série Encontro Marcado abre o semestre com a professora Maria Esther Maciel

Autora conversa com o público no Acervo de Escritores Mineiros



A professora Maria Esther Maciel, convidada de agosto do Encontro Marcado.
Maria Esther Maciel: entrelaçamento de gênerosFoto: acervo pessoal

Nesta quinta-feira, 29, a professora Maria Esther Maciel abre a programação do segundo semestre da série Encontro Marcado, promovida pelo Acervo de Escritores Mineiros.
A conversa vai abordar o percurso autoral de Maria Esther, nos mais diversos formatos e gêneros textuais, e de sua relação com a literatura. "O entrelaçamento de gêneros é um traço muito importante do meu trabalho, pois escrevo poesia, ficção e ensaio", diz a professora.
Mediada pelo poeta e estudante de pós-doutorado em Estudos Literários Kaio Carmona, o bate-papo com o público ocorre no ambiente da exposição O laboratório do escritor, no terceiro andar do prédio da Biblioteca Universitária. Com manuscritos, fotografias, obras de arte, objetos pessoais e a biblioteca de autores mineiros, o local propicia uma atmosfera literária singular que inspira o diálogo entre público e convidado.
Encontro Marcado começa às 18h de quinta-feira e é aberto ao público. Mais informações estão divulgadas nas redes redes sociais do Acervo de Escritores Mineiros(InstagramTwitter e blog) e podem também ser solicitadas pelo telefone (31) 3409-6079.
CarreiraA carreira literária de Maria Esther Maciel começou em 1985 com o livro de poesia Dos haveres do corpo. Dezenove anos depois, ela estreou na ficção com O livro de Zenóbia, finalista do prêmio Portugal Telecom de 2005. Maria Esther foi professora de literatura comparada na Faculdade de Letras da UFMG até o ano passado e atualmente segue atuando como professora colaboradora na Unicamp.
Maria Esther também publicou, entre outros, os livros Triz (poesia, 1998), A memória das coisas – ensaios de literatura, cinema e artes plásticas (2004, finalista do Prêmio Jabuti), O livro dos nomes (ficção, 2009, menção especial no Prêmio Casa de las Américas e finalista de vários concursos nacionais, como o Prêmio São Paulo de Literatura, o Jabuti e o Portugal Telecom), A vida ao redor (crônicas, 2014, semifinalista do Prêmio Oceanos) e Literatura e animalidade (ensaio, 2016). 
A escritora tem contos, poemas e ensaios publicados em revistas e antologias do Brasil e do exterior e foi cronista semanal do Caderno de Cultura, do jornal Estado de Minas, de 2011 a 2014. Atualmente, é coordenadora editorial da revista Olympio - literatura e arte.

19/07/2019

AQUARELA VIÚVA

 

 

AQUARELA VIÚVA 

(MINIMAMENTE BARROCO)

 

  

Geraldo Reis

 

 

A viuvez do minério

no poema que é mistério

já se ressente passado.

 

 

O sol que é sobre a vivenda

na malha dessa comenda

rumina o couro do gado.



28/05/2019

MINAS EM PRETO E BRANCO

MINAS

EM PRETO 

E BRANCO


(COM A DEVIDA VÊNIA, LEMBRANDO DRUMMOND)

    Geraldo Reis  / maio 2019


 
Se Minas não há mais, José,  
                   e se a festa acabou

Resta a lembrança da parede que dói 
como um deserto
mais do que o retrato.

Resta a maldição do retrato
em preto e branco 
perseguindo o reboco.

Resta a algaravia  
pousada de madrigais,
no beiral abandonado. 
 
Resta o muro que enferruja o subsolo.

Se Minas não há mais, José, 
resta a lembrança
de um vitral que se desfaz
na garganta comovida dos galos
entre as duas cores do retrato de hoje.
  
Minas não dá mais, José,
                    e  agora?
 
Lembrada em preto e branco
mais do que o retrato 
Minas é uma parede que dói.

22/04/2019

VILA RICA, TELHADOS

          
VILA RICA, TELHADOS     
                                       
 
Geraldo Reis


Agora tudo é Vila Rica

Todos os telhados
todas as casas
todos os rios
      
e becos
e pedras
e cabelos. 

Meus olhos amaram esses telhados senis
     e agora sabem:
     tudo é Vila Rica.
     
O tempo
  O templo

  O vento batendo janelas
  A chuva adoecendo os telhados.
      
Tudo é Vila Rica!

Os cabelos do enforcado 
Pendendo das goteiras    
Dão de ressuscitar apóstolos barbados 
     Que vão
           Ladeira
                 Abaixo.

Recém-saídos da bruma
  E de dentes cariados
    Emergem do abismo
  Incomodando os telhados.

Agora pairam na bruma,
logo mais, 
estarão assombrando a cidade.


05/02/2019

Ei, Regina, passei para lhe desejar um Feliz 2019. Desde Ouro Preto, Mariana e Belo Horizonte. Vi que você está sintonizada, mas vi também que a imagem que tentaram criar de Jair Bolsonaro, felizmente, não vingou. Ele veio para dar nova configuração à política no Brasil. Não é de engolir cobras e lagartos. Acabou vitorioso, apesar da campanha sórdida, imunda e mentirosa que fizeram para tirá-lo do páreo. Espero, "para o bem de todos e felicidade geral", que faça um excelente governo. É o que nós, brasileiros já cansados de tanta corrupção, esperamos dele. Chega de entregar a pátria, chegar de vender a pátria, chega de mentir e de fazer "negociatas". Chega de corrupção! Estão vendendo uma imagem errada desse homem que é limpo, é verdadeiro e tem como projeto combater a corrupção em todos os níveis, combater com todos os instrumentos disponíveis (instrumentos legais). Veja a equipe que montou para corrigir o Brasil, todos do mais alto gabarito! Que Deus dê a ele e a toda equipe, saúde para esse enfrentamento. Em campanha, tentaram tirá-lo do caminho tentaram até assassiná-lo em Juiz de Fora (foi esfaqueado por um esquerdopata). Coisa que ninguém podia imaginar. Agora vai ser diferente. É o que esperamos. Que venha 2019! Que venha um Brasil novo, totalmente passado a limpo. A "pátria mãe subtraída" deve ficar no passado.Chega de mentira! Queremos um Brasil de verdade para as futuras gerações. (Geraldo Reis - Poeta e Advogado - Blog O SER SENSÍVEL, Autor de PASTORAL DE MINAS (poesia) e DURANDO ENTRE VINDIMAS (poesia), ANTOLOGIA POÉTICA II - EDITORA INTERLIVROS - co-autoria, dentre outros poemas e textos avulsos publicados em livros (antologias) e jornais diversos. Membro Academia Marianense de Letras, do Conselho Editorial Revista de Direito Minerário. Reside em Belo Horizonte, Minas Gerais).

QUADRINHA DE NATAL (Natal de 2018)





 

NATAL


Geraldo Reis


Natal é luz que atravessa


de noite a porta fechada


de um coração com promessa


de inventar a madrugada.




Natal luz noite madrugada

18/01/2019

HERANÇA




HERANÇA

Geraldo Reis



Depois do abismo da noite
ninguém perturbe o silêncio 
dos óculos deixados, como que 
esquecidos de mim, sobre a mesa.


Nunca mais verei
com aqueles óculos,
minha dama,
de segredo feita e paisagem.


Nenhum calor
nas lentes
que a recorde.


No quarto onde mal dormia
eu vos deixo de herança
meus olhos cambaios.

28/11/2018

Divulgando o lançamento de : ESTADO DE SÍTIO, de Aldísio Filgueiras


Editora Valer





LANÇAMENTO DO LIVRO:
ESTADO DE SÍTIO, DE ALDISIO FILGUEIRAS

Editora Valer lançará no dia 29 de novembro, quinta-feira, às 18h30min, o livro ESTADO DE SÍTIO, do poeta ALDISIO FILGUEIRAS.

O evento será realizado na ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS  ̶   Rua Ramos Ferreira, 1009 - Centro − CEP. 69010-120 − Manaus/AM.


O ano de 1968 foi marcante na vida de Aldísio Filgueiras. Depois de ter sido premiado, no concurso promovido pela União Brasileira de Escritores, seção do Amazonas, o poeta viveu a frustração de ver seu livro de estreia, Estado de Sítio, ser impresso e, ao mesmo tempo, impedido, em função do clima político do país, de ser publicado. Aldísio Filgueiras é um dos fundadores do Teatro Experimental do SESC – Tesc, escreveu em 1973, em parceria com Márcio Souza, a peça Dessana, Dessana.
Atento ao processo histórico e aos desdobramentos políticos que resultaram na redemocratização do país, o autor reuniu um conjunto de poemas, escritos entre os anos de 1978 a 1986, período final do regime militar, que evocam esse contexto, publicado em 1989, o livro foi intitulado A república muda. Pelas suas características formais e conteúdo crítico, a obra é uma continuação de Malária. A publicação, em 1994, de Manaus, as muitas cidades é um marco na trajetória poética de Aldísio Filgueiras: ao mesmo tempo em que atesta sua maturidade como criador, lega à literatura que se produz no Amazonas um dos livros mais expressivos e elucidativos do nosso processo cultural. Nova subúrbios (2004) e Cidades de puro nada (2018) completam essa tapeçaria poética – que também pode ser descrita como um testemunho do sujeito poético sobre o seu tempo e seu espaço vivencial. Seu lugar.

Estado de Sítio é um livro premonitório na trajetória literária de Aldísio Filgueiras: enuncia um posicionamento diante do mundo, marcado por sua condição de gauche, um anjo manco – à margem e desassossegado com os descaminhos do mundo –, ao mesmo tempo em que labora sua lírica e, assim, estabelece os pressupostos de sua estética. O fundamento filosófico e estético da poesia de Aldísio já está prefigurado na encantaria poética que enforma seu livro de estreia.

Esta edição é uma celebração e uma homenagem aos 50 anos de publicação de Estado de Sítio [1968-2018] e é também um reconhecimento pela dedicação de seu autor ao ofício do verso. O renascimento deste livro é uma prova insofismável do poder da palavra e da força e magia da poesia – nenhum poder é capaz de subtrair o canto dos poetas.

Márcio Souza sobre Estado de Sítio

Há dois aspectos de linguagem que sobressaem e caracterizam a poesia de Filgueiras: as palavras já não são mutiladas pelo conhecido onanismo amazonense e aparecem como um jogo sonoro de articulações críticas. Assim, é uma poesia que se abre para fora do confessional, rompendo com a analogia de vitrine e estabelecendo uma subjetividade livre de especulações psicológicas. Não é mais o espírito doente do poeta provinciano que vislumbra na natureza os sinais antropomórficos de sua doença. Filgueiras desaloja esta analogia castradora e enfrenta o significado do mundo amazônico que “risca funda fronteira / e aliena / seu feudo do mundo / em líquido / estado de sítio”.

LANÇAMENTO

Obra: ESTADO DE SÍTIO
Autor: ALDISIO FILGUEIRAS
Edição: Editora Valer
N.º Páginas: 130
Valor: R$ 44,00
Dia: 29 de novembro de 2018 (quinta-feira)
Horário: 18h30
Local: Academia Amazonense de Letras
Rua Ramos Ferreira, 1009 - Centro - CEP. 69010-120  ̶  Manaus/AM 
Contatos: Editora –3184-4568 / Autor (Aldisio): 98113 - 5687   

15/11/2018

POETA VERDE

Geraldo Reis

Para Pascoal Motta,  lembrando  VER DE BOI  - poemas - Prêmio Cidade de Belo Horizonte - Imprensa Oficial - 1973, e em razão da Primavera. 



Ver de boi é ver 

de olhos vermelhos

a Primavera 


lá no longe 

onde o esquecimento não chega

onde a saudade acontece 

 

e tece 

e anuncia 

 

no silêncio e no cio

o amor que se renova. 

 

Ver de boi  é ver o que fica 

do amor

na vida que passa.


É ver    

en-tre-cor-ta-do 


no filme que repete o pasto                                                        

o amor eternizado.


13/10/2018

A TÚNICA


A TÚNICA 
OU
QUASE  POEMA DE NATAL

 
Geraldo Reis


Branca, a túnica é indivisível.

É multiplicada e é multiplicadora.

Todos a recebem por inteiro

no dia do próprio nascimento

ao aviso de que devem mantê-la acesa

para que o Menino,

rompendo o ventre das Trevas

reine por inteiro o tempo todo.


Mas, um dia...

(sempre tem “um dia”)

alguém se descuida,


e a Luz

ficando longe

paliúmida

           se apaga

trancando-se depois

como o sol

no enferrujado baú de um dia findo.


Com seus elmos arrefecidos à sombra

de uma oliveira já vencida de cansaço

a milícia romana se refaz em festa

e alguns soldados procuram desmatar

o mito:


Há que dividir-se

(por que não?)

a túnica indivisível.


Ao redor do fogo frio

e da geometria de um deus em desatino

a reboque de um menino extenuado

ouve-se próximo

o grito desnatalizado das hienas

que levará dos homens todos

o derradeiro Natal.


A despeito, porém, das hienas

e dos soldados e dos gritos

e dos ásperos caminhos arrepanhados de luz

há de renascer o Menino eficiente

por inteiro

com a sua túnica indivisível

em desfavor da flor enriquecida de urânio

e em favor de uma única pétala de paz.

21/09/2018

NOVO POEMA A QUATRO MÃOS E À DISTÂNCIA: CANTIGUINHA PARA ACALENTAR TATU


Registre-se que o poema foi escrito originalmente por Paschoal Motta, com destaque para a redondilha maior. Em nota o autor informa que escreveu "diante de foto anônima de um tatuzinho sendo ali amamentado."

Fiz uma segunda voz à guisa de acompanhamento, com preferência para decassílabos, à revelia, com total desconhecimento do mestre, até para que lhe fosse, agradável ou não, uma surpresa.

A tarefa implicou inclusive na divisão do poema em blocos.
 
Mais do que atrevimento que possa parecer, a "nova parceria" tem a intenção de justa homenagem.

É assim que esse NOVO POEMA A QUATRO MÃOS foi escrito e vem a público.


CANTIGUINHA DE ACALENTAR TATU
(Seguida de represado canto greis, secundado à distância).


I

Mama, alegre o tatuzinho
sonhando, a mamãe dorme,

Não só de porre vive "esse menino" 
vive também de um pesadelo enorme.

É que o homem, seu vizinho
o quer para ele, de conforme

Quer a carne do pobre após o vinho
deve comê-lo num banquete enorme.


II

O tatu, ah, o tatu, 
nem na boca ele traz dente
numa toca de dureza... 


Há de chorar por ele uma serpente
fria lágrima de vidro, com certeza.


III 

O homem será homem
quando bebe o leite do inocente
para escavar incerteza?

Treinado cão de caça vai à frente
logo haverá de abocanhar a presa.

IV 

Tatuzinho, quem me dera, 
fosse o homem diferente

Deixasse o bicho ver a Primavera
depois, morrer de velho e de contente.

Ele, o homem, a mais fera fera
com frieza inteligente

É cruel para além da estratosfera
Não dá valor ao pobre ser vivente.


Durma seu tempo em sossego
meu tatuzinho e irmão

desfrute enquanto pode seu chamego
e abre um buraco no meu coração.

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Paschoal Motta, jornalista, professor, escritor. Publicou os livros de poemas VER DE BOI, Prêmio Cidade de Belo Horizonte - 1973, CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ e ESTAÇÕES DA AUSÊNCIA. Em prosa, EU TIRADENTES, dentre outros. Reside em São Pedro dos Ferros/MG;

Geraldo Reis - Blog O SER SENSÍVEL. Reside em Belo Horizonte/MG.
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POESIA NA ESTANTE

  • 50 POEMAS (Antologia bilíngue: Português e Alemão) - Anderson Braga Horta / Tradução de Curt Meyr-Clason)
  • A CONTINGÊNCIA DO SER - Célio César Paduani
  • A INSÔNIA DOS GRILOS - Jorge Tufic
  • A RETÓRICA DO SILÊNCIO - Gilberto Mendonça Teles
  • A ROSA DO POVO - Carlos Drummond de Andrade
  • A SOLEIRA E O SÉCULO - Iacyr Anderson Freitas
  • A VACA E O HIPOGRIFO - Mário Quintana
  • AINDA O SOL - Gabriel Bicalho
  • ARTE DE ARMAR - Gilberto Mendonça Teles
  • ARTEFATOS DE AREIA - Francisco Carvalho
  • AS IMPUREZAS DO BRANCO - Carlos Drummond de Andrade
  • BARCA DOS SENTIDOS - Francisco Carvalho
  • BARULHOS - Ferreira Gullar
  • BAÚ DE ESPANTO - Mário Quintana
  • BICHO PAPEL - Régis Bonvicino
  • CADERNO H - Mário Quintana
  • CANTATA - Yeda Prates Bernis
  • CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ E ACORDAR UNS HOMENS - Pascoal Motta
  • CANTO E PALAVRA - Affonso Romano de Sant'Anna
  • CARAVELA - REDESCOBRIMENTOS - Gabriel Bicalho
  • CENTRAL POÉTICA - Lêdo Ivo
  • CONVERSA CLARA - Domingos Pelegrini Jr.
  • CORPO PORTÁTIL - Fernando Fiorese
  • CRIME NA FLORA - Ferreira Gullar
  • CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISíVEL - Maria do Rosário Teles do invisível
  • DIÁRIO DO MUDO - Paulinho Assunção
  • DICIONÁRIO MÍNIMO - Fernando Fábio Fiorese Furtado
  • DUAS ÁGUAS - João Cabral de Melo Neto
  • ELEGIA DO PAÍS DAS GERAIS - Dantas Motta
  • ESTESIA (Triolés) - Napoleão Valadares
  • FANTASIA - Napoleão Valadares
  • FINIS TERRA - Lêdo Ivo
  • GUARDANAPOS PINTADOS COM VINHO - Jorge Tufic
  • HORA ABERTA - Gilberto Mendonça Teles
  • HORTA (Versos em Três Tempos) - Anderso de Araújo Horta - Maria Braga Horta e Anderson Braga Horta
  • INVENÇÃO DE ORFEU - Jorge de Lima
  • LAVRÁRIO - Márcio Almeida
  • LIRISMO RURAL (O Sereno do Cerrado) - Gilberto Mendonça Teles
  • MEL PERVERSO - Márcio Almeida
  • MELHORES POEMAS - Paulo Leminski
  • NARCISO - Marcus Accioly
  • O ESTRANHO CANTO DO PÁSSARO - Célio César Paduani
  • O ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - Cecília Meirelles
  • O SONO PROVISÓRIO - Antônio Barreto
  • O TERRA A TERRA DA LINGUAGEM - Gilberto Mendonça Teles
  • OS MELHORES POEMAS DE FERREIRA GULLAR - Ferreira Gullar
  • PASTO DE PEDRA - Bueno de Rivera
  • PLURAL DE NUVENS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMA SUJO - Ferreira Gullar
  • POEMAS REUNIDOS - Gilberto Mendonça Teles
  • POEMAS REUNIDOS - João Cabral de Melo Neto
  • POESIA REUNIDA - Jorge Tufic
  • RETRATO DE MÃE - Jorge Tufic
  • SIGNO (Antologia Metapoética) - Anderson Braga Horta
  • VER DE BOI - Pascoal Motta
  • VESÂNIA - Márcio Almeida
  • VIANDANTE - Yeda Prates Bernis