A TÚNICA(QUASE POEMA DE NATAL)
Geraldo Reis
Branca, a túnica é indivisível.
É multiplicada
e é multiplicadora.
Todos a recebem por inteiro
no dia do próprio nascimento
ao aviso de que devem mantê-la acesa
para que o Menino,
rompendo o ventre das Trevas
reine por inteiro o tempo todo.
Mas um dia...
(Sempre tem “um dia”)
alguém se descuida,
e a Luz
ficando longe
paliúmida se apaga
trancando-se depois
como o sol
no enferrujado baú de um dia findo.
Com seus elmos arrefecidos à sombra
de uma oliveira já vencida de cansaço
a milícia romana se refaz em festa
e alguns soldados procuram desmatar o mito:
Há que dividir-se
(por que não?)
a túnica indivisível.
Ao redor do fogo frio
e da geometria de um deus em desatino
a reboque de um menino extenuado
ouve-se próximo
o grito desnatalizado das hienas
que levará dos homens todos
o derradeiro Natal.
A despeito, porém, das hienas
e dos soldados e dos gritos
e dos ásperos caminhos arrepanhados de luz
há de renascer o Menino eficiente
por inteiro
com a sua túnica indivisível
em desfavor da flor enriquecida de urânio
e a favor de uma única pétala de paz.
Geraldo Reis
e a Luz
paliúmida
trancando-se depois
como o sol
8 comentários:
What an incredible marvel you are. You open many windows with your wisdom here.
Scarves Scarves
Gostei mto!
Obrigadom Constância. GR
Quanto será o último Natal? Para que seja distanciado no tempo esse último Natal, vamos precisar da boa vontade dos homens de boa vongtade.
Quanto será o último Natal? Para que seja distanciado no tempo esse último Natal, vamos precisar da boa vontade dos homens de boa vongtade.
Lindo poema! Vou postar no meu blog,
(já postei, "Jogar bridge").
Geraldo Reis, realmente um ser sensível! Sensível, belo e terno, seu poema de Natal!
Ainda é Natal. Não duvide, ainda é Natal.
Isso é um acontecimento! É Natal nos grotões e na cidade.
É Natal debaixo das pontes e dos viadutos.
É Natal na falta de pães, no desemprego e no salário curto do trabalhador.
É Natal na cabeça do Cristo indignado que estaciona o pobre na contramão da luz.
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